Cuidar de quem cuida: enquanto cuidamos de todos, quem nota quando desmoronamos por dentro?

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por: Renata Gusmon, diretora-executiva de Pessoas do Grupo Amil

No último CONARH, tive a oportunidade de falar sobre um tema que atravessa a minha experiência como psicóloga e executiva de Recursos Humanos: cuidar de quem cuida. Mais do que uma frase bonita, é um princípio que molda culturas, sustenta resultados e transforma a vida dentro das organizações.

Minha trajetória mostrou que esse conceito significa, antes de tudo, colocar as pessoas em primeiro lugar. Uma recomendação que faço para quem inicia nesta área é desenvolver principalmente um olhar com sensibilidade para todos os colaboradores, seja qual for sua função ou nível hierárquico, e reconhecer o papel essencial que cada um desempenha no funcionamento da organização.

Conseguir fazer esse reconhecimento passa também por garantir que os colaboradores estejam bem fisicamente, emocional e psicologicamente. É importante criar ambientes seguros no trabalho, onde haja respeito, valorização, pertencimento e oportunidades reais de desenvolvimento. Além de nunca esquecer que por trás de cada crachá existe uma vida, uma história e um contexto que merecem ser tratados com humanidade.

No setor da saúde, por exemplo, esse desafio ganha contornos ainda mais intensos, uma vez que aqueles que salvam vidas muitas vezes escondem suas próprias vulnerabilidades e acabam por romantizar a resiliência. Mas a verdadeira força não está em negar fragilidades, e sim em seguir adiante apesar delas.

Liderar esses profissionais é delicado e exige coragem. É preciso criar espaços de escuta, acolhimento e apoio para falar de saúde mental sem tabu, respeitar os limites humanos e mostrar, com modelos, que o autocuidado faz parte da responsabilidade profissional.

O futuro das organizações passa pela liderança que sabe equilibrar cobrança e empatia, que demonstra vulnerabilidade e constrói confiança em vez de controle. Ambientes psicologicamente seguros não se constroem de um dia para o outro, mas, quando existem, potencializam engajamento, colaboração, inovação e resiliência real.

Na Amil, por exemplo, onde atuo, esse princípio se traduz em frentes complementares: promovemos ações direcionadas ao bem-estar do colaborador como escuta contínua; formação de lideranças para segurança psicológica; suporte multiprofissional (jurídico, psicológico e financeiro); monitoramento de saúde ocupacional com planos de cuidado; promoção de bem-estar e prevenção em saúde mental; e rituais de cultura e espaços de diálogo.

Na prática, isso significa oferecer apoio começando por quem cuida dos 5,74 milhões de beneficiários atendidos pelo Grupo. Afinal, são esses profissionais que sustentam nosso propósito diariamente.

As organizações de saúde e lideranças envolvidas têm o desafio de cuidar de quem cuida. Este é um compromisso que exige consistência, escuta ativa e responsabilidade institucional. Quando colocamos as pessoas no centro e sustentamos esse cuidado com ações concretas, criamos uma cultura que não apenas protege, mas também potencializa e garante que o propósito de cuidar seja vivido com autenticidade todos os dias.

Por: ABRH Brasil

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