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Por Isabel Alves Azevedo*

A atividade profissional ocupa, em uma estimativa conservadora, pelo menos um terço do tempo da vida de uma pessoa, a partir dos 18 anos até os 65 anos. Essa imensidão de horas torna a felicidade no trabalho algo valioso para quem busca uma vida completa sob todas as perspectivas.

Pesquisa recente com mais de 4 mil donos de pequenas e médias empresas, distribuídos em sete países, revelou que políticas de qualidade de vida aumentam a produtividade de equipes, melhoram a imagem da empresa e atingem melhores resultados positivos.

Mas como conquistar essa felicidade no trabalho? Qual o papel da empresa no processo motivacional para que o colaborador se sinta realizado? Neste post, vamos abordar essas questões. Confira!

Afinal, o que é felicidade no ambiente corporativo?
Se até mesmo as experiências positivas, em excesso, podem minar a felicidade no ambiente corporativo, então, alcançar a felicidade para o colaborador durante o dia a dia da empresa não seria uma utopia?

Não. A felicidade no trabalho está muito ligada ao nível de satisfação do trabalhador e não precisa ser integral. Ou seja, mesmo que encontre problemas no dia a dia de trabalho, a pessoa se sentirá satisfeita se, no enfrentamento desses desafios, encontrar amparo e suporte para vencê-los e se for, enfim, reconhecido pelas vitórias conquistadas. A felicidade no trabalho também está intimamente ligada às condições de trabalho e à oferta de qualidade de vida proporcionadas pela empresa, inclusive externamente.

Em regra, no contexto profissional, podemos dizer que é sinônimo de êxito, de circunstâncias ou situações em que há sucesso. E ambientes que valorizam e reconhecem a atuação dos seus profissionais tendem a produzir neles o sentimento de bem-estar, de dever cumprido, de valorização e de reconhecimento. Isso o faz feliz.

Além disso, oferecer um propósito que influencie de forma positiva a vida de outras pessoas, que proteja o meio ambiente, que faça a diferença no mundo, por exemplo, pode preencher aquela ânsia por um propósito.

Uma cultura organizacional compatível com os valores dos funcionários também é fundamental para o desenvolvimento da alegria e da aceitação dos parâmetros definidos pela empresa, como veremos a seguir.

O que pode sabotar a felicidade no trabalho?
Motivação, ambição, senso de responsabilidade e busca por propósito são características que acompanham bons funcionários. Essas atitudes, no entanto, se não forem bem administradas, podem ser o caminho para levar o profissional ao esgotamento e, consequentemente, acabar com a felicidade dele no trabalho. Veja as principais:

Excesso de motivação
Os hipermotivados, por exemplo, tendem a exceder os limites físicos e psicológicos ao se colocarem em jornadas prolongadas, levarem trabalho para casa ou utilizarem o trabalho para preencher aspectos da vida pessoal que não estão bem. A longo prazo, a situação pode se transformar em estresse e prejudicar a pessoa.

Ambição desmedida
Se bem dosada, a ambição é essencial para o sucesso na carreira, pois reflete o desejo de crescer profissionalmente. Contudo, quando em excesso, pode fazer com que o profissional não dê valor àquilo que conquista. Além da frustração em querer sempre aquilo que não tem, a ambição pode se transformar em excesso de competitividade pode acabar com a harmonia de uma equipe e, assim, comprometer os resultados da empresa.

Submissão excessiva
Quem não desejar ter um profissional responsável e obediente? O problema é quando essa característica é confundida com submissão pelo funcionário. A situação pode se tornar pior quando há bônus e promoções envolvidas. O resultado é parecido com o do hipermotivado: a vida pessoal é deixada de lado e a felicidade fica para trás.

Propósitos divergentes
Empresa e colaborador devem compartilhar valores para que motivação e resultados caminhem lado a lado. Atualmente, profissionais das gerações Y e Z, no entanto, têm expectativas um tanto diversas da geração X. Quando essas gerações se encontram, o resultado não é muito bom: profissionais trocando de emprego em busca de propósitos que, muitas vezes, não se concretizam.

Como a cultura da empresa afeta o processo motivacional?
A cultura organizacional aglutina valores, comportamentos e políticas internas e externas da empresa. Trata-se, assim, da união de crenças que norteiam as ações tomadas por diretorias, por gerências e por toda a base da corporação.

Ao reunir um conjunto de fatores que lidam diretamente com a rotina empresarial, a cultura do negócio tem importante influência na qualidade de vida e, consequentemente, na felicidade de seus colaboradores.

Márcio Fernandes, autor do livro Felicidade que Dá Lucro e responsável por tornar a distribuidora de energia Elektro uma das melhores empresas para se trabalhar, afirma que as pessoas buscam transparência e verdade no trabalho. A empresa que proporciona isso a seus colaboradores recebe em troca compromisso.

Dessa forma, em uma cultura meritocrática, por exemplo, definir os critérios de avaliação, com acompanhamentos e feedbacks periódicos e fidelidade aos resultados alcançados são determinantes para manter uma equipe coesa e motivada. A recompensa com bônus e presentes por metas atingidas é sempre bem recebida.

Em outra ponta, saber valorizar as questões que transcendem o ambiente corporativo também são vistas de forma positiva pelos funcionários. Uma empresa que apoia os empregados na administração das vidas privadas, por exemplo, tende a receber em troca comprometimento maior. Um exemplo dessa prática são os casos de jornada flexível e das empresas adaptadas para receber mamães com filhos recém-nascidos.

O que é um diretor da felicidade e para que ele serve?
Chamado nos Estados Unidos de Chief Happiness Officer (CHO), o diretor da felicidade, ainda raro no Brasil, tem como missão auxiliar e estimular o engajamento dos funcionários nas atividades da empresa. O profissional deve trabalhar em harmonia com o setor de Recursos Humanos.

A importância dessa função ganha relevância no momento em que a organização compreende que uma força de trabalho motivada tem um impacto direto na imagem e nos resultados do negócio. O diretor de felicidade pode gerar valor para a empresa a partir do desenvolvimento de determinadas áreas.

Emoção positiva
A emoção positiva pode ser revelada pelo número de ações que satisfazem o funcionário no dia a dia em contraste às sensações negativas experimentadas no mesmo período.

Engajamento
O grau de envolvimento com as atividades laborais tem impacto no nível de satisfação do colaborador. Quanto mais o engajamento for genuíno, mais feliz ele é. O feedback bem dado tem grande força nessa questão.

Autorrealização
O CHO avalia o reconhecimento dado ao profissional pela empresa — plano de carreira, capacitação e aumento salarial, por exemplo, entram nesse item. Trata-se do lado tangível do reconhecimento. Algo que, quando ausente, fará a pessoa se desestimular ou procurar outra empresa em determinado momento.

A felicidade no trabalho depende das motivações individuais, mas deve ser estimulada pela empresa por meio de uma cultura organizacional inspiradora. Afinal, a satisfação pessoal do colaborador permite à organização reter talentos, produzir mais e gerar resultados positivos para a sociedade.

Isabel Azevedo
*Isabel Alves Azevedo é executiva de Employee Relations na UnitedHealth Group