Por Susana Falchi*
Ao mesmo tempo em que o mercado profissional exige das empresas imediata capacidade de adaptação a mudanças para atender à diversidade de necessidades de seus clientes, as quais não param de acontecer, os indivíduos começam a questionar o quanto vale a pena “jogar o jogo” das corporações para nelas manter uma posição.
Integrantes da geração X, que ainda atuam no mercado de trabalho, tinham como premissa profissional atender todas as necessidades da organização, mesmo que para isso precisassem sacrificar a sua vida pessoal. Daí, o ditado “primeiro a obrigação e depois a diversão”. O cenário atual é totalmente diferente. As novas gerações estão cada vez mais buscando equilíbrio entre vida profissional, social e pessoal. Trazem uma perspectiva de carreira, quase autônoma e com uma visão mais utilitária das organizações, no sentido de permanecerem em seus trabalhos, desde que tragam significado, aprendizado e sentido.
É mandatório as empresas olharem para suas culturas organizacionais, pois, de um lado, há líderes gerindo a partir dos valores de comprometimento, responsabilidade e total disponibilidade para o trabalho e, do outro lado, profissionais que buscam sentido e significado em suas atividades e não querem simplesmente atuar de forma “obediente” sem entenderem de forma ampla o impacto das ações empresariais na sociedade e no meio ambiente, além de ter a liberdade para poder contribuir de forma mais abrangente.
Uma grande mudança se avista no horizonte, a qual certamente trará impactos no modelo de contrato de trabalho com esses profissionais e principalmente nos modelos organizacionais e em suas estruturas para absorção dessa mão de obra.
Isso posto, nota-se que o interesse dos jovens pelas organizações é cada vez menor. Pesquisa realizada pela Mind Miners e pelo Centro de Inteligência Padrão (CIP), em julho de 2016, apontou que 71% de 1.330 jovens nascidos entre 1985 e 1999 pretendem trocar de emprego ou atividade num período de até cinco anos. Desse universo, 51% querem abrir o próprio negócio. Apenas 10% não almejam trocar de emprego. As novas gerações não querem ficar o dia inteiro no trabalho, nem mesmo viver em metrópoles. Buscam qualidade de vida integrada à atividade profissional.
Esse público ingressa no mercado de trabalho em um momento em que, no Brasil, 40% dos líderes estarão aposentados até 2025. Não há profissionais para substituí-los em termos de capacidade ou experiência. Ainda assim, poucas empresas atentam ao processo sucessório. Não apenas quanto ao comando de companhias de capital aberto ou familiares, mas também quanto à sucessão de executivos. Profissionais com know-how de 20 anos deixam o mercado sem que se pense quem irá substituí-lo e, consequentemente, sem preparar alguém para a posição.
Para se valerem dos ganhos proporcionados pela tecnologia, as organizações terão de passar por uma metamorfose, a começar pelo seu ambiente, hoje permeado pela competitividade. Profissionais competem com colegas e até com departamentos inteiros. Embora tal comportamento seja valorizado, ele não é construtivo. Isso impede a formação de uma consciência individual e coletiva e até socioambiental. Não é mais possível trabalhar pensando apenas no que se deve fazer. É preciso identificar o impacto que a produção tem sobre a sociedade e o meio ambiente, sem o que não há como garantir a perenidade do trabalho.
As corporações precisam entender a necessidade de integrar todos os stakeholders com base na cooperação. A partir daí, pode-se criar um ambiente colaborativo, ao invés de competitivo. Isso criará soluções mais saudáveis e produtivas, pois é impossível que uma única pessoa detenha todo o conhecimento e competências necessárias para atender a complexidade empresarial.