Apesar da vigência da Lei Anticorrupção (2014) e do aumento da fiscalização, 96% dos executivos brasileiros afirmam que a corrupção ainda acontece nos negócios, de acordo com a 15ª edição do levantamento Global Fraud Survey, realizado pela empresa de consultoria e auditoria EY (Ernst & Young) com 2.550 executivos, em 55 países. Em 2014, o percentual era de 70%.
Globalmente, os resultados mostram que há uma defasagem entre a introdução de leis anticorrupção mais rígidas e a efetiva redução dessa prática. Mesmo a justiça americana aplicando em todo o mundo mais de US$ 11 bilhões em multas desde 2012, 38% dos executivos globais hoje ainda acreditam que essa prática continua prevalecendo nos negócios. Os Estados Unidos ficaram em 39º lugar no ranking da EY.
Nos últimos quatro anos, a quantidade de brasileiros que acredita que determinadas práticas são justificáveis para conquistar negócios, como oferecer presentes e viagens, pagamentos em dinheiro ou mesmo manipular demonstrações financeiras, diminuiu de 20% em 2014 para 18% em 2018. Para a maior parte (96%) é importante demonstrar que a sua empresa opera com integridade, índice próximo ao restante do mundo (97%) e da América do Sul (99%).
Responsabilidade
Os entrevistados no país entendem que a integridade do negócio depende mais do comportamento individual responsável (50%) do que de ações de áreas ou níveis hierárquicos específicos, tais como a Administração (24%), a Área de Compliance (12%), Recursos Humanos (6%) ou o Conselho de Administração (2%).
Em outros países, a percepção de responsabilidade é mais distribuída e concentra-se mais na Administração (44%). Já os relatos de empresas que enfrentaram ao menos um incidente relevante de fraude nos últimos dois anos permanecem parecidos: 11% em 2014 e 10% em 2018.
Justificável
Globalmente, a percepção de fraude e corrupção nos negócios não diminuiu nos últimos dois anos, apesar de algumas melhorias em certos países.
Dos executivos globais entrevistados, 11% afirmaram que as empresas em que atuam tiveram algum incidente de fraude relevante nos últimos dois anos, 11% afirmaram que o uso de suborno para conquistar negócios é uma prática comum em seus setores, 38% responderam que fraude e corrupção ocorrem amplamente em seus países e 13% pensam ser justificáveis pagamentos em dinheiro para conquistar negócios em tempos de dificuldades econômicas – esse índice é maior junto a executivos abaixo de 35 anos. Desse grupo, um em cada cinco acha justificável.
Tecnologia x complexidade
“Ainda há espaço para melhorar, com o maior emprego de tecnologia para reduzir custos e agilizar monitoramento preventivo e investigações, bem como assegurar que a conduta ética e gerenciada de forma eficaz não é apenas dentro da empresa, mas também com terceiros e aqueles que agem em nome da organização. Por exemplo, ainda vemos que quase metade das práticas de diligência de terceiros (52%) não tem uma abordagem baseada em risco sob medida para cada tipo de relacionamento”, afirma Guilherme Meister, sócio da área de investigação de fraudes da EY.
A transformação de modelos de negócio em função da rápida evolução da economia digital também está fazendo com que os cenários de risco de fraude e corrupção sejam cada vez mais complexos.
Os entrevistados acreditam que as mudanças no ambiente regulatório (43%), o ambiente macroeconômico (42%), ataques cibernéticos (37%) e fraude e a corrupção (36%) constituem os maiores riscos para os seus negócios.
No entanto, as empresas ainda não parecem compreender essa complexidade. Enquanto os entrevistados focam sua atenção nas estruturas de compliance, ainda há espaço para melhoria em alguns pontos, como o emprego de ferramentas de tecnologia para prevenção e monitoramento. “A pesquisa mostra que é claramente importante que organizações transformem suas intenções, políticas e códigos em comportamentos individuais observáveis, controles melhores e ferramentas, demonstrando o que nós chamamos de Integrity Agenda”, completa Meister.
A tabela abaixo mostra o percentual de entrevistados que afirmam que práticas de corrupção ocorrem amplamente nos negócios em seus próprios países e regiões:
2018 | País | % 2018 |
% 2012 |
1 | Brasil | 96 | 84 |
2 | Colômbia | 94 | 92 |
3 | Nigéria | 90 | 72 |
4 | Quênia | 88 | 76 |
5 | Peru | 82 | N/A |
6 | África do Sul | 80 | 64 |
7 | Chipre | 80 | N/A |
8 | México | 70 | 60 |
9 | Ucrânia | 70 | 84 |
10 | Argentina | 68 | 68 |
11 | Itália | 68 | 74 |
12 | Hungria | 66 | 58 |
13 | Eslováquia | 66 | N/A |
14 | Bulgária | 60 | N/A |
15 | República Tcheca | 56 | 80 |
16 | Malásia | 56 | 44 |
17 | Filipinas | 54 | N/A |
18 | Grécia | 46 | 68 |
19 | Portugal | 46 | N/A |
20 | Arábia Saudita | 46 | N/A |
21 | Israel | 44 | N/A |
22 | Lituânia | 44 | N/A |
23 | Indonésia | 42 | 72 |
24 | Índia | 40 | 70 |
25 | Austrália & Nova Zelândia | 38 | 14 |
26 | Oriente Médio | 38 | 44 |
27 | Chile | 34 | 24 |
28 | Romênia | 34 | 30 |
29 | Reino Unido | 34 | 14 |
30 | Turquia | 32 | 52 |
31 | Canadá | 30 | 14 |
32 | Rússia | 28 | 48 |
33 | Spain | 22 | 34 |
34 | Bélgica | 20 | 10 |
35 | França | 20 | 16 |
36 | Polônia | 20 | 20 |
37 | Coreia do Sul | 18 | N/A |
38 | Luxemburgo | 18 | N/A |
39 | Estados Unidos | 18 | 14 |
40 | China | 16 | 143 |
41 | Hong Kong | 14 | |
42 | Japão | 12 | 14 |
43 | Irlanda | 10 | 14 |
44 | Noruega | 10 | 14 |
45 | Singapura | 10 | 4 |
46 | Áustria | 6 | 20 |
47 | Dinamarca | 6 | N/A |
48 | Países Baixos | 6 | 6 |
49 | Taiwan | 6 | N/A |
50 | Finlândia | 4 | N/A |
51 | Suécia | 4 | 4 |
52 | Suíça | 2 | 0 |
53 | Alemanha | 2 | 2 |