Por Haroldo Modesto*
O conceito de parceiro acompanhante é algo que está passando por uma grande evolução quando o tema é mulheres no trabalho e mobilidade global. Embora hoje apenas 20% dos expatriados em todo mundo sejam mulheres – lembrando que o universo é ainda mais restrito no Brasil, onde essa percentagem é de apenas 5% – esse cenário já vem mudando e as empresas estão mais focadas em melhorar essa participação. Dentro desse contexto, uma das mudanças que merecem nossa atenção é com relação ao papel das mulheres, tradicionalmente mais associado ao de esposa do funcionário que está mudando de país. Porém, isso não pode mais ser considerado uma regra.
É cada vez mais comum vermos situações em que essa ordem tradicional é invertida, na qual o homem é o parceiro acompanhante de uma funcionária mulher. Entretanto, os desafios enfrentados por elas ainda são muitos, o que nos convida a pensar em soluções criativas para essa nova tendência.
De uma forma geral, as infraestruturas de suporte ao parceiro acompanhante, oferecidas internacionalmente pelos programas de mobilidade, ainda são muito voltadas aos estereótipos de um público feminino – principalmente esposas. Não se contempla totalmente a condição das mulheres no trabalho e, como resultado, as opções acabam girando em torno de atividades maternais, associações escolares, chás da tarde, e por aí vai.
Embora hoje apenas 20% dos expatriados em todo mundo sejam mulheres, esse cenário já vem mudando.”
Sem contar que as próprias comunidades locais, ou até mesmo os próprios empregadores no novo país, algumas vezes julgam mal se é uma mulher que está sendo realocada e não seu acompanhante homem. Isso ocorre em função de normas culturais e estereótipos de gênero. Sabemos de inúmeros casos nos quais houve falta de empatia ou suporte para a funcionária só por ela ser mulher, algo que as equipes de RH, assim como os próprios gerentes, devem ficar atentos. Sem falar que elas podem ser confundidas com acompanhantes, gerando desnecessariamente um enorme desconforto.
Aqui na Crown, por exemplo, mantemos rigidamente uma política de diversidade e inclusão, o que inclui a expatriação, e 50% dos quase cinco mil funcionários da companhia, globalmente, são mulheres.
Desvincular a mulher do eterno estereótipo de parceira acompanhante é um desafio a ser vencido. Por outro lado, são crescentes os debates sobre diversidade na mobilidade global, fato amplamente apontado pela pesquisa Perspectivas Globais de Mobilidade para 2018, que também identifica algumas iniciativas e soluções criativas que estão sendo colocadas em prática.
Suporte técnico para a procura de carreira para o parceiro, treinamento intercultural, identificação de oportunidades de empregos locais, participação em comunidades nas redes sociais, como forma de apoio durante o processo da mudança, e, por fim, incentivo de atualização na política e comunicação das empresas que estão contratando são algumas medidas que já estão sendo introduzidas para que, dessa forma, possamos acolher as mulheres que decidem galgar uma carreira internacional.