Por Antonio Carlos Hencsey*
Destaque no noticiário mundial, o caso de sabotagem da Tesla, montadora norte-americana de carros elétricos, supostamente motivado por um funcionário que queria uma promoção e não a recebeu, parece até um roteiro de filme. No entanto, é mais comum do que muitos imaginam e traz inúmeros riscos para as organizações.
Segundo e-mail enviado pelo presidente executivo da companhia, Elon Musk, a todos os colaboradores, um funcionário, usando nomes de usuários falsos, fez alterações no código do sistema operacional de fabricação da Tesla e exportou dados altamente sensíveis para terceiros, ainda desconhecidos. O caso, que ainda está sendo investigado, traz à tona, novamente, a preocupação com a ética no ambiente corporativo.
No Brasil, o tema ganhou força após a implementação da Lei Anticorrupção e da eclosão da Lava Jato e, por isso, ainda está muito ligado ao compliance. Mas, muitas organizações, e aqui incluem-se tanto as de pequeno porte quanto as de grande, como é o caso da Tesla, se esquecem que a fragilidade na cultura ética também pode trazer outros e potenciais riscos ao negócio, como vazamento de informações, sabotagem, exposição negativa da imagem, fraudes e apropriação indevida de ativos.
Não basta adotar códigos de ética e conduta e orientar o que pode e não pode ser feito
Constatado em pesquisa, os colaboradores condicionam o uso de informações confidenciais a fatores de pressão situacional ou análise benefício versus prejuízo. Os dados também mostram como ainda é sensível o tema “confidencialidade” nas organizações, pois, se, por um lado, muitos colaboradores não têm ciência de que trabalham com dados sigilosos, por outro, há uma fragilidade na postura adotada pelas empresas frente à questão.
Chamo a atenção para a importância de se considerar o risco humano para identificar vulnerabilidades e proteger os negócios. Afinal, os profissionais lidam com diversos dilemas morais e éticos no ambiente de trabalho e espera-se que suas decisões sejam baseadas nos valores da organização, algo que nem sempre ocorre e, em muitos casos, pode ser previsto.
Não basta apenas adotar códigos de ética e conduta e orientar o que pode e não pode ser feito. É preciso se adequar às normas do mercado e, mais fundamental ainda, realizar o compliance individual, que avalia, por meio de uma metodologia, a flexibilidade moral e o nível de aderência à cultura ética organizacional por parte dos funcionários.
Isso porque mesmo um profissional capacitado e treinado, tecnicamente excelente, pode trazer riscos para a organização, seja por sua percepção incorreta sobre o certo e errado, pela suscetibilidade às pressões do dia a dia ou até por buscar a neutralidade de posicionamento em situações em que deveria se impor e realizar o que é correto.
Compreender o posicionamento ético dos profissionais é fator preponderante
Nesse contexto, o compliance individual apresenta-se como uma ferramenta de grande utilidade, não para pressupor rotulações e exclusões, mas, sim, para compreender o comportamento ético e trazer informações relevantes para a tomada de decisão em situações como, por exemplo, o processo de seleção, de promoção e de empoderamento de quem pode ter acesso a informações críticas da organização.
Compreender o posicionamento ético dos profissionais é um fator preponderante para a gestão estratégica de pessoas, prevenção de crises e segurança do negócio, sem contar ainda que permite antecipar ações diretas na dinâmica organizacional.
O comportamento ético pode ser aprendido e cabe às empresas a missão de alinhar, reforçar e direcionar o tema junto aos seus profissionais com ações que revitalizem o ambiente.