Por Andréa Duque*
Já sabemos que há uma infinidade de doenças relacionadas ao estresse no dia a dia. São quadros que vão desde problemas simples, como alergias, até casos extremos, como complicações cardiovasculares. Aliás, é curioso notar como doenças tão variadas possam ter origem em uma questão psicológica tão corriqueira. Porém, diferentemente do que seria natural supor, pouco se fala em profundidade a respeito das causas do estresse em si.
O senso comum costuma relacionar o problema a condições cotidianas, como excesso de trabalho ou crises familiares, uma noção um pouco distorcida do que ocorre de fato. Afinal, há muitos profissionais que crescem justamente diante de grandes adversidades. Um exemplo disso são os executivos que mostram seu valor a partir de grandes crises financeiras. Nesse caso, a questão econômica, em vez de se transformar em puro estresse, trazendo todos os malefícios decorrentes, é convertida em combustível para mudanças estruturais vitais para a saúde financeira da empresa.
O fator gerador do estresse não são as situações adversas em si
Assim, fica claro que o fator gerador do estresse não são as situações adversas em si, mas a forma como lidamos com elas. Então, a pergunta que fica é: por que aquela situação me trouxe tantas emoções negativas? Qual é a raiz do problema?
Nesse contexto, é importante observarmos um fator que leva para uma série de conflitos internos e externos e, no final, ao estresse. Diferentemente do excesso de trabalho ou das crises familiares, esse gatilho é pouco difundido. Pior ainda: costuma ser considerado um sentimento inofensivo. Estou falando do apego.
É normal nos apegarmos. Esse hábito faz parte de nosso ego e serve como uma ferramenta para que possamos nos defender de situações adversas. Por outro lado, é a porta de entrada para uma série de emoções destrutivas que geram muito estresse, como rejeição, indiferença, raiva, ciúmes e outras.
O tipo de apego mais evidente para a maioria das pessoas é o afetivo, quando amamos alguém. Algumas vezes, pensamos que temos posse de determinada pessoa e passamos a ser mais exigentes, esperando ou mesmo exigindo o que o outro não pode cumprir. Daí vêm os as emoções negativas mencionadas anteriormente.
Por outro lado, o apego pode ser dirigido a coisas, como objetos de valor financeiro ou sentimental, e até mesmo a ideias – alguns, preocupados em terem seus projetos de negócios “roubados”, acabam jamais compartilhando suas ideias com outros, deixando de receber feedbacks importantíssimos, às vezes determinantes para o sucesso da empreitada.
Ao meditarmos, usamos a respiração como uma bússola que nos orienta pelo caminho da interiorização
Já imaginou quantos problemas enfrentamos por conta do apego? Imagine grandes líderes apegados obstinadamente às próprias ideias autoritárias o que não são capazes de fazer?
Se o apego faz parte do nosso ego, mas, ao mesmo tempo, é a raiz de tantos problemas, o que devemos fazer para lidar com ele? A solução não é simples, mas todo o processo começa pela mais elementar das ações: respirar. Mais especificamente, meditar.
Ao meditarmos, usamos a respiração como uma bússola que nos orienta pelo caminho da interiorização. Esse processo permite entrarmos em contato com o nosso íntimo, dando início a um processo de autoconhecimento, pois quando temos toda a atenção voltada para nós mesmos, aprendemos a conhecer melhor os nossos próprios sentimentos. E assim podemos identificar onde está o apego.
Na prática meditativa, sempre que um pensamento indesejado vem à tona, damos um gentil sinal mental para que ele vá embora e lembramos de voltar o nosso foco à respiração. No dia a dia, o mesmo processo deve ocorrer. O apego, por ser inerente à natureza humana, irá se manifestar constantemente.
Cabe a nós usarmos o autoconhecimento obtido na meditação para identificar quando estamos tomando atitudes impulsionadas pelo apego ou se pelo bom-senso. Se a causa for o primeiro caso, basta colocar em prática o que se aprendeu na prática meditativa e gentilmente afastar essa ideia de sua mente, como se fosse um pensamento fora de lugar.
O processo é longo e a meditação é apenas a primeira parte. Mas se começarmos a praticá-la periodicamente, já daremos um salto enorme para abandonar as emoções negativas que causam tantos problemas, desde o estresse do dia a dia até grandes guerras.