Por João Guilherme Sabino Ometto*
São positivas as mudanças no Fies (Programa de Financiamento Estudantil) anunciadas pelo governo, válidas já a partir do início do segundo semestre letivo de 2018. Podendo financiar integralmente a graduação com mensalidades de até sete mil reais, alunos de todas as faixas de renda ampliam a oportunidade de buscar formação em faculdades tradicionalmente mais procuradas e, portanto, mais caras.
O acesso a cursos de qualidade e em áreas com maior potencial de empregabilidade, como também possibilita o ProUni (Programa Universidade para Todos), é essencial para o Brasil ascender ao patamar de economia de renda alta, num cronograma de desenvolvimento no qual estamos atrasados.
Neste momento em que ainda não solucionamos os problemas inerentes à educação básica, ao ensino superior e ao técnico em suas concepções tradicionais, ainda muito focadas em modelos do século 20, já nos deparamos com os desafios inerentes às mudanças na estrutura da produção e do trabalho.
Muitos podem estar sonhando com formações inerentes a profissões que deixarão de existir
Isso significa, em termos práticos, que teremos de trocar o pneu com o carro andando. É necessário preparar as novas gerações, inclusive as que já estão inseridas no sistema educacional, da educação infantil à universidade, para a nova realidade da Quarta Revolução Industrial e tecnologias como a inteligência artificial, robotização, internet das coisas e a aplicação de tudo isso na atividade profissional, que está passando por enormes transformações.
Nesse contexto, é preciso estar atento à conclusão de recente estudo do Fórum Econômico Mundial, intitulado o Futuro do Trabalho: 65% dos alunos que estão começando o ensino fundamental terão profissões que ainda não existem. E muitos podem estar sonhando com formações inerentes a profissões que deixarão de existir. Os avanços serão estruturais, indica pesquisa da consultoria McKinsey, salientando que, para cada posto de trabalho eliminado pela tecnologia, 2,4 novos serão criados, principalmente em startups.
É para esse novo mundo que o sistema de ensino brasileiro deve voltar seu olhar. Assim, é assustador pensar que sequer solucionamos os problemas de qualidade da educação básica na rede pública, que temos 24,8 milhões de brasileiros de 14 a 29 anos fora da escola (IBGE – dezembro de 2017) e que nossos alunos apresentam defasagem de conhecimento (no último Pisa, programa internacional de avaliação de estudantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, ficamos na 63ª posição em ciências e na 59ª, em leitura).
Se não estamos conseguindo formar bem nossos jovens para profissões conhecidas e há tempos consolidadas, como poderemos lhes proporcionar boas condições de empregabilidade num cenário em que todos os conceitos produtivos e laborais estão sendo rompidos, revistos e transformados? Essa pergunta precisa ser respondida com urgência pelos gestores do ensino e as autoridades. É claro o duplo desafio que temos pela frente: resolver a questão da qualidade, da evasão escolar e do acesso ao ensino superior e ao técnico e, ao mesmo tempo, adequar a educação à realidade do século 21.
Medidas como a melhoria do Fies são importantes e bem-vindas, mas precisamos ir muito além. Para viabilizar nosso futuro e saber qual país queremos e poderemos ser, precisamos preparar muito bem as novas gerações para as tais profissões que ainda não existem!