Por Daniel Castello*
Meu foco no 44º CONARH – Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas, realizado pela ABRH-Brasil em agosto – foram temas que alteram a dinâmica social das organizações. Tenho tido curiosidade sobre quanto é realmente possível mudar a realidade de exclusão e diferenças sociais a partir da ação das empresas, e decidi me aprofundar nisso. Foi uma jornada surpreendente e emocionante.
Começou com os Caçadores de Bons Exemplos, o casal Iara e Eduardo Xavier, que, há vários anos, dirige pelo Brasil procurando histórias para mostrar que o mundo pode ser bom, e Yohansson Nascimento, atleta paralímpico brasileiro que nasceu sem as mãos e ganhou várias medalhas paralímpicas em provas de atletismo. Um convite poderoso para acreditarmos que é possível construir uma realidade diferente, se deixarmos o vitimismo e o determinismo em segundo plano.
É possível construir uma realidade diferente, se deixarmos o vitimismo e o determinismo em segundo plano.
Na primeira sessão de simultâneas, An Verhulst-Santos, presidente da L’Oréal Brasil, contou a miríade de ações afirmativas para mudar a história, levando para dentro da empresa uma representação demográfica da população brasileira, na forma de pessoas e produtos. E também abordou as ações da L’Oréal de estímulo ao desenvolvimento da ciência pelas mulheres. Incrível.
No segundo dia, a filósofa Djamila Ribeiro falou da importância de cultivar a diversidade de um ponto de vista ético. Com uma elegância ímpar, ela nos convidou a “desnaturalizar” o que achamos normal nas organizações – a olhar para uma sala de diretoria e “estranhar” o fato de só vermos homens brancos ou olhar para a equipe de limpeza e “estranhar” o fato de só vermos mulheres negras. Falou da importância das ações afirmativas para desfragmentar uma sociedade que se fragmentou e se acostumou a colocar as pessoas “nos seus lugares” a partir de estereótipos e razões históricas. Sua calma e didática me impactaram mais do que qualquer coisa que eu já tivesse escutado antes sobre inclusão.
À tarde, contemplei, com alguma tristeza, a pequena plateia em frente ao palco da palestra das três ONGs que trabalham com inclusão de egressos do sistema penal nas empresas. Pensei em como um tema tão importante pode ainda ser um tabu tão gigantesco.
Depois fui assistir ao Guilherme Braga, da Egalité, falar de inclusão de pessoas com deficiência. O foco não é na deficiência – é na pessoa: o que ela sabe fazer, qual é o seu talento, como pode ser mais produtiva e o que precisamos fazer para ajudá-la a encontrar seu espaço. A fala dele é de uma didática impecável: “Não são nem heróis, nem vilões. Apenas pessoas. Como eu e você”.
Em um ambiente de liberdade, a diversidade surge naturalmente
No último dia, mediei o painel com o Pedro Chiamulera, CEO da Clearsale, empresa que tem uma cultura radical de liberdade, confiança e busca conjunta de resultados. Quando perguntado sobre diversidade, ele respondeu calmamente: “Não é um problema. Em um ambiente de liberdade, a diversidade surge naturalmente. Nós temos todos os tipos de pessoas na Clearsale. Todas são diferentes entre si”. De cair o queixo.
Saí modificado por dentro, inspirado, desafiado. Com a convicção de que, sim, podemos construir um mundo melhor a partir das empresas. No ano que vem, o tema do CONARH é humanismo. Vamos aprofundar essa discussão!