Por Rodrigo Pimentel*
Hoje em dia, as empresas trabalham pelo lucro, pela ascensão de sua importância na economia do seu setor de atuação e, mais ainda, pelo crescimento econômico do país como um todo – que também gera crescimento e mais negócios para as organizações. Afinal, se a economia ascende, ela atrai investimentos, emprega mais e melhor, e isso se reflete dentro das empresas. Mas, e quando se fala em produtividade?
Essencial para o lucro – e, obviamente, para o crescimento – a produtividade brasileira vem decaindo consideravelmente nos últimos anos. As empresas aqui vêm experimentando um gargalo operacional que dificulta o alcance dos lucros simplesmente porque há um entendimento geral de que a produtividade depende de grandes investimentos em tecnologia. Contudo, precisamos pensar: quem, efetivamente, produz? Não é um bot e muito menos um superssistema de logística, manufatura ou vendas.
Quem toma as decisões de estratégia, investimento, programação, supervisão e mesmo operação são pessoas, e aí percebemos que talvez estejamos testemunhando um movimento falho das empresas brasileiras neste sentido: todas as organizações querem ser produtivas, mas, entre direcionar todo o investimento para tecnologia de última geração ou fazê-lo associado a uma estratégia focada em conhecer profundamente seus colaboradores, suas habilidades interpessoais – como Liderança, Pensamento Crítico, Capacidade de Colaboração e Negociação – e entender quais devem ser aprimoradas e usadas para melhorar o fluxo de trabalho da empresa como um todo, pouquíssimas são aquelas que ficam com a segunda opção.
E é aí que reside o erro.
Falta considerar algo que deveria ser entendido como essencial: o desenvolvimento das chamadas soft skills dos colaboradores
Partindo do princípio de que produtividade é fazer mais com os mesmos recursos ou com menos, simplesmente investir em tecnologia não é a resposta certa. Portanto, acredito que vale considerarmos alguns pontos. Dados recentes da Deloitte mostram que a produtividade brasileira chegou a um decréscimo de 0,2% entre 2010 e 2017. Segundo o economista Paulo Guedes, superministro da Economia, o plano é fazer com que as empresas aumentem sua produtividade em 20% até 2020. Contrastando essa meta com os dados de mercado, percebe-se um cenário bem difícil de se concretizar. E não porque as empresas não vão conseguir aumentar a produtividade de forma tão consistente – algumas vão, ainda não temos certeza de exatamente quanto, mas vão –, mas porque os movimentos que a maioria delas faz para isso ainda são inconsistentes. Falta considerar algo que deveria ser entendido como essencial: o desenvolvimento das chamadas soft skills dos colaboradores como base operacional, a valorização do fator humano, com todas as suas particularidades, acima de qualquer outra estratégia milionária.
A análise do World Economic Forum endossa o meu posicionamento. No relatório mais recente do Laboratório de Competitividade e Desenvolvimento Inclusivo do Brasil, eles dizem o seguinte: “Em termos de força de trabalho, parte do desafio é promover a educação vocacional em larga escala e alinhar o currículo de cursos com demandas de negócios (…) conhecimento técnico, por si só, não significa produtividade para empresas – gestão de projetos, inovação tecnológica, cooperação e outras soft skills são necessárias”.
Embora o estudo seja muito mais abrangente que isso, essas linhas resumem meu pensamento a respeito do tema: para ganhar produtividade será necessário que as empresas deem ao colaborador a importância que ele tem.
Falta olhar para o fator humano, falta dar o devido valor às pessoas dentro das corporações. Aliado ao fato de que, no Brasil, a produtividade é mais encarada como resultado do que como jornada, esse gargalo de entendimento é o grande motivo que leva a economia brasileira a ser tão pouco produtiva.
O conceito de produtividade precisa permear todas as áreas da empresa, mesmo as que não sejam diretamente ligadas ao seu core business. Produtividade deve fazer parte da cultura da companhia, deve ser um conceito fluido possível de ser identificado em cada área, cada liderança, cada colaborador.
Se sua empresa faz peças de máquinas, quebre a cabeça e ache um propósito mais nobre, um jeito diferente e verdadeiro de se posicionar no mercado, que REALMENTE engaje seu colaborador
A solução, então, é corrigir a rota rumo à produtividade. Esse é um trabalho multifatorial e que precisa ser desenvolvido em todas as frentes: em primeiro lugar, sim, as empresas devem usar people analytics, mas com um olhar que vá realmente além dos currículos e capacidades técnicas, que seja sustentável e de longo prazo, sensível o suficiente para apontar, com acuracidade, o momento daquele colaborador. Em segundo lugar, as lideranças e o RH precisam ter pleno conhecimento das soft skills necessárias para o aumento da produtividade e saber como identificar essas habilidades em suas equipes, além de mudar a chave dos antigos “missão e valores da empresa” para o novo “propósito”. Empresas realmente produtivas trabalham com propósito e têm esse valor alinhado aos propósitos pessoais e profissionais de seus colaboradores. Muitas pessoas hoje querem trabalhar para algo que faça a diferença. Portanto, se sua empresa faz peças de máquinas, quebre a cabeça e ache um propósito mais nobre, um jeito diferente e verdadeiro de se posicionar no mercado, que REALMENTE engaje seu colaborador.
Para que a produtividade cresça, você precisa abrir a cabeça. Pode até ser difícil no começo, mas os resultados vão valer a pena. E lembre-se: essa quebra de paradigmas já deveria ter acontecido ontem, mas ainda dá tempo: é hora de olhar para seu ativo humano com a importância que ele merece – hoje e para o futuro.