ABRH Brasil

Por Michelle Onuki, Head de People Tech e People Innovation no iFood

Se você é da área de People, provavelmente também vive o mesmo desafio que a gente.

Trabalhamos todos os dias para resolver problemas reais do negócio com soluções reais.

E, muitas vezes, há urgência na entrega, sendo que construir essas soluções passa por transformação digital e mudança cultural, o que não costuma ser tão rápido assim. É nessa hora que a atuação muito próxima e efetiva das áreas de tecnologia, dados e People é fator crítico de sucesso.

É aí também que aparecem os desafios:

  • como fazer áreas de conhecimento tão complementares atuarem All Together e com velocidade para entregar resultados?
  • como fazer 1+ 1 somar 3?

Desde 2021, viemos amadurecendo um modelo baseado em gestão de produtos e times híbridos (que o Gartner chama de Fusion Teams) aqui na área de People, e temos tido ótimos resultados.

Em pouco mais de um ano e meio conseguimos acelerar a agenda de transformação digital do RH e fizemos uma grande quantidade de entregas que envolvem tecnologia:

  • bots com inteligência artificial que enviam nudges (gatilhos) e geram eficiência;
  • sistemas que permitem mitigar o efeito de vieses em decisões de compensation e avaliação de potencial;
  • saltos de experiências do usuário em sistemas de RH
  • mecanismos automatizados de análise de qualidade de dados.

Percorremos essa jornada com um mindset ambidestro, conseguindo focar em entregas inovadoras de um lado e mais estruturais e evolutivas de outro. Neste artigo, a ideia é compartilhar quais foram os fatores chave que viabilizaram esses resultados.

People, no iFood, tem Fusion Teams focados em soluções tecnológicas e de dados para a agenda de RH

Por experiências anteriores que já vivi, não foram raras as vezes em que o produto final entregue não gerava valor ou gerava menos valor do que o esperado para o negócio.

No mundo mais tradicional, vários fatores podem ser a causa: a entrega envolve áreas diferentes, com skills funcionais diferentes e é desafiador manter a sinergia, priorização e foco no resultado para avançar com velocidade.

Aqui no iFood, resolvemos isso fazendo iterações constantes: montando uma equipe com diferentes skills funcionais dentro do RH, e que consiga atuar ao longo de toda a idealização, construção e entrega, possibilitando interações mais assertivas.

Reunimos aqui perfis que normalmente não existem em uma estrutura de RH.

Além de especialistas em RH e gestão de mudanças, fazem parte do time de People: engenheiro de dados, desenvolvedor de bot, arquiteto de produto, arquiteto de integrações, cientista de dados, especialistas em UI e UX, e por aí vai.

É isso mesmo que você leu!

Tem um time com funções de tecnologia, dados e analytics – que normalmente ficam em outras áreas – dentro do RH.

Leia também: People analytics e os benefícios da análise de dados no RH

Recentemente, o Gartner chamou esse modelo de “Fusion Teams“.

Equipes multidisciplinares que reúnem diferentes combinações de expertise de tecnologia para realizar entregas reportando para o líder de negócios (no caso, o CHRO “Chief Human Resources Officer”, que corresponde a Líder de Recursos Humanos).

Segundo o Gartner, pelo menos 84% das empresas já criaram fusion teams, com a maioria utilizando metodologias ágeis projetadas para entregar produtos digitais.

Fusion Teams na prática: como times híbridos impactam o RH? 

Essas equipes multidisciplinares ou times híbridos se dedicam em construir soluções tecnológicas fora das fronteiras tradicionais das áreas de TI, embora estejam sempre buscando o alinhamento, já que segurança e escalabilidade não são opcionais.

Esse mix de expertises dentro de People possibilitou avançarmos com velocidade. Trouxe autonomia para planejar, executar e gerenciar nossas soluções digitais com velocidade.

Primeiro,

porque são profissionais focados na agenda de transformação digital do RH.

Segundo,

porque estão inseridos no contexto dos desafios estratégicos de uma área de RH.

Do desenvolvedor ao arquiteto e ao engenheiro de dados, todos se inserem no desafio começando pelo “por quê”. Isso significa que todos do time sabem desde o início porque estamos construindo uma solução e permanecem conectados a resultados-chave perseguidos desde o primeiro dia.

Terceiro,

porque, com o tempo, todos os profissionais da equipe vão amadurecendo um blend interessantíssimo de skills técnicos e conhecimento de RH.

É claro que existem desafios nos quais estamos trabalhando: buscar uma governança adaptativa que nos permita estar conectados às boas práticas de tech para garantir sustentabilidade enquanto seguimos com autonomia.

Fusion Teams e o RH: como abordar as soluções de People com o mindset de produto?

Um segundo fator-chave de sucesso que fez toda a diferença por aqui foi abordar todas as soluções de dados e de tecnologia de People com mindset de produto.

O que isso significa na prática?

Como primeiro passo, dividimos a jornada do FoodLover em grandes blocos: atração, desenvolvimento, diversidade, operações, compensation, atendimento e proximidade, que aqui chamamos de ecossistemas.

Em seguida, designamos um Product Manager para o conjunto de soluções de tecnologia e dados para dar suporte a cada ecossistema e não para soluções isoladamente. O objetivo dele é estruturar, evoluir e inovar nos ecossistemas, liderando os Fusion Teams e fazendo a interface com usuários-chave, donos de processo e líderes de RH.

Grande parte dos nossos Product Managers tem background em tecnologia e/ou dados e RH – o que ajuda a acelerar a aterrissagem dos porquês.

Com essa organização, conseguimos mitigar a concorrência entre os ecossistemas por um espaço na agenda de priorização de tecnologia e dados. Todos os ecossistemas evoluem paralelamente e têm um gerente de produto focado olhando para suas dores e oportunidades.

É como se cada ecossistema fosse um produto composto por várias soluções (sejam elas SaaS ou desenvolvidas internamente) que precisam atender objetivos de negócio: uma pequena tech company que condiz muito com o espírito empreendedor que temos por aqui.

Enquanto em um ecossistema o Product Manager está avaliando e desenvolvendo uma solução in-house para avaliar potencial ou performance de FoodLovers, para o Product Manager de outro ecossistema a agenda é de melhoria da experiência de interface do usuário de um sistema SaaS.

Um dos desafios para acelerar esse caminho é encontrar profissionais que falem de tecnologia e RH com propriedade, mas acredito que profissionais híbridos com um olhar de tecnologia e negócios vão ficar cada vez mais comuns no mercado.
O Gartner nomeia esses profissionais como Business Technologists.