Por Rafaella Matioli e Naira Duarte*
O bem-estar dos colaboradores já era uma preocupação para as empresas, mesmo antes da pandemia do coronavírus (COVID-19), uma vez que quanto mais saudável e confortável o colaborador estiver, mais produtivo ele será em suas tarefas, ajudando no desenvolvimento dos negócios. Traduzindo em números, uma melhoria de 3% no desempenho do bem-estar dos colaboradores pode resultar em um aumento de 1% na satisfação e retenção do cliente, enquanto uma melhoria de 4% no bem-estar pode produzir um aumento de 1% nos lucros da empresa, apontou a mais recente edição da Pesquisa Global de Bem-Estar da Aon, realizada com mais de 1,6 mil companhias em 41 países. Pode parecer modesto em termos de resultado de negócios, mas já indica a conexão entre bem-estar e desempenho.
Tradicionalmente, as estratégias para promover o bem-estar dos colaboradores nas empresas são focadas na parte física. No entanto, conforme os custos do tratamento das condições crônicas associadas a estilos de vida não saudáveis continuam a aumentar, as companhias estão começando a olhar para o bem-estar com uma lente mais abrangente. Só para se ter uma ideia, os custos totais de benefícios médicos fornecidos pelo empregador devem aumentar 12% em 2022 no Brasil, segundo a edição mais recente do Global Medical Trends, que confirma ainda a crescente prevalência de fatores de risco de hábitos pessoais pouco saudáveis na América Latina e no País, como má nutrição e sedentarismo.
Como não há uma resposta simples ou uma abordagem única para a saúde e o bem-estar, uma visão holística pode trazer resultados melhores em várias frentes. É interessante que as organizações considerem e deem atenção aos quatro fatores do bem-estar de um indivíduo: físico, financeiro, mental e emocional.
Na pandemia, muitas companhias se concentraram em desenvolver práticas e proporcionar benefícios em um ou mais desses quatro aspectos. De acordo com a 13ª Pesquisa de Benefícios Aon, realizada com mais de 800 empresas brasileiras, 47% delas relataram que não só implementaram como vão manter programas e/ou ações de saúde, qualidade de vida e bem-estar. Entre as principais medidas aplicadas no período, estão a telemedicina (57,4%), programas de saúde mental (43,5%), palestras com psicólogos (30,8%), ações de ergonomia (28,8%) e aplicativos de saúde e bem-estar (26%). Analisando apenas as ações de qualidade de vida, 68,1% das organizações entrevistadas apontaram que a pandemia influenciou essas ações de alguma forma. A maioria (70%) aumentou e/ou intensificou as ações, enquanto 21,7% não tinham iniciativas neste sentido e implementaram nos últimos dois anos.
É importante ressaltar que não basta apenas implementar medidas, é preciso avaliar constantemente se elas estão funcionando. Neste ponto, uma parcela significativa das empresas brasileiras faz algum tipo de avaliação, já que mais da metade (57,7%), por exemplo, acompanham mensalmente seus programas de gestão de saúde.
Uma boa forma de mensurar o “desempenho de bem-estar” é reunir as diferentes métricas, como satisfação dos usuários, valor das ações, taxas de retenção e absenteísmo. Manter os colaboradores conectados, pessoalmente e por meio da tecnologia, pode ajudar a promover relacionamentos, assim como uma cultura que ajuda a alcançar o bem-estar social.
As empresas podem e devem desempenhar um papel fundamental motivando os indivíduos e suas famílias a assumirem um papel mais ativo na gestão de sua saúde, incluindo a participação em atividades de saúde e bem-estar e o gerenciamento das condições crônicas. É necessário pensar nisso a partir de uma perspectiva de resiliência da força de trabalho, elemento importante para o sucesso do negócio, especialmente em tempos desafiadores. Seja em trabalho remoto ou presencial, as companhias devem se certificar que os colaboradores se sintam apoiados e cuidados. Não há melhor maneira de criar laços e lealdade do que quando eles veem sua organização como um parceiro comprometido em mantê-los seguros.
*Rafaella Matioli, Diretora de Health & Human Capital Solutions da Aon Brasil e Naira Duarte, Gerente de Consultancy & Solutions da Aon Brasil.