Com o avanço da agenda ESG (Ambiental, Social e Governança, em tradução da sigla em inglês) nas corporações, as atenções dos profissionais de RH naturalmente vão se concentrando em torno do aspecto “social” do tripé que forma o conceito. Para os públicos externos, essas ações incluem a busca por relações mais transparentes entre as empresas e seus stakeholders, como consumidores, clientes, parceiros, fornecedores, comunidades e demais segmentos afetados por suas atividades. Levantar, medir, acompanhar e prestar contas acerca dos impactos das organizações sobre as pessoas deixou de ser opcional. Quem não o fizer, provavelmente, será deixado para trás por concorrentes mais responsáveis e conectados com os novos modos de produção exigidos pela sociedade.
No âmbito interno, o olhar tem se voltado para os próprios times, os ambientes oferecidos a eles e os processos adotados para promover seu desenvolvimento profissional e pessoal. Assim como acontece nas interações com os públicos externos, a construção de espaços que atendam aos preceitos “sociais” da agenda ESG também é mandatória para as companhias que pretendem triunfar nesse contexto. Estudo realizado pela consultoria PwC aponta que, até 2025, mais de 50% dos fundos mútuos europeus levarão em consideração os critérios ESG para direcionar seus investimentos. Ao lado deles, os consumidores também se mostram cada vez mais preocupados com os valores e o comportamento socioambiental das empresas de quem compram produtos e serviços.
Nesse sentido, dentre as principais iniciativas adotadas pelas corporações está o trabalho de Diversidade e Inclusão (D&I), que traz esses dois nomes justamente por dizer respeito a duas tarefas indissociáveis: diversidade para assegurar a representação de todos os tipos de pessoas nas organizações e inclusão para dar-lhes as condições de desempenhar suas funções em seu máximo potencial.
A construção de um ambiente acolhedor das diversidades é obrigatória para as empresas que pretendem entregar suas promessas de inclusão. Não basta contratar, é preciso garantir que esses profissionais encontrem espaços e processos favoráveis ao seu pleno desenvolvimento. O papel do profissional de RH, respaldado pela alta liderança, é garantir uma integração completa para que todos os colaboradores possam ter as mesmas condições de prosperar no ambiente corporativo.
No caso das pessoas com deficiência, é preciso ainda escapar da armadilha do capacitismo, preconceito estrutural que atribui a essa população uma menor capacidade de executar suas funções. Infelizmente, ainda é comum encontrar quem acredite que um profissional surdo não estaria apto para o trabalho apenas porque não é capaz de ouvir. Essa falsa noção, além de afetar o clima das equipes, obviamente não contribui para a produtividade. Mais de 2 milhões de brasileiros têm grande dificuldade ou não escutam de modo algum. São jovens e adultos cuja inserção no mercado de trabalho é não apenas uma questão legal – conforme exigido desde 1991 pela Lei de Cotas –, mas também uma oportunidade para tornar as organizações mais diversas e inclusivas.
Para atender a esse público e às empresas que o contrata, a AME, amparada em suas mais de três décadas de experiência promovendo inclusão, desenvolveu o ICOM, plataforma de tecnologia assistiva que garante a comunicação entre surdos e ouvintes. Intérpretes profissionais certificados traduzem em tempo real de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para o português oral e vice-versa. O funcionamento é muito simples: os mais de 60 intérpretes atendem às videochamadas feitas pela internet ou pelo aplicativo e asseguram a comunicação online entre empresas e consumidores ou entre os próprios colegas de trabalho.
Lançado em 2014, o ICOM vem transformando a interação das empresas com seus colaboradores surdos. Somente no último mês, a nossa central de atendimento registrou 700 horas de utilização para seus mais de 20 clientes que disponibilizam a ferramenta como recurso digital para uma comunicação acessível entre os colaboradores surdos e ouvintes das empresas, com uma média mensal de quase 500 atendimentos. As organizações vêm utilizando os nossos serviços tanto para agendar reuniões online com seus funcionários quanto no dia a dia, para se comunicar sobre os mais variados assuntos e tarefas.
Além do uso voltado para inclusão de colaboradores surdos, a Central de LIBRAS também pode ser utilizada para as empresas se comunicarem com seus consumidores surdos, promovendo acessibilidade nos atendimentos. Disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, o sistema oferece múltiplos canais de acesso, via website, QR Code, telefone, aplicativo ou até mesmo em um ponto físico, sendo possível adaptar e customizar os scripts de atendimento de acordo com as diferentes necessidades das empresas.
Com o aplicativo instalado em seu smartphone, o surdo ganha independência e autonomia para se comunicar em qualquer situação, a qualquer hora do dia ou da noite. O serviço pode também ser empregado em gestão de eventos, garantindo uma comunicação fluida em palestras e exposições, seja de forma presencial ou online. Além disso, o ICOM fornece treinamento integral para as equipes que vão operar a ferramenta, inclusive com a possibilidade de criação de sinais de LIBRAS específicos para a marca ou empresa em questão. Trata-se de uma solução eficiente e de baixo custo, cujo potencial transformador, para pessoas, empresas e órgãos públicos, contribui de forma decisiva na promoção da diversidade nos ambientes corporativos.
Por Cid Torquato
CEO do ICOM e ex-secretário municipal e do Estado da Pessoa com Deficiência de São Paulo.
[email protected]