Por Rafaella Matioli e Erika Vaz
Uma das principais tendências que caminhava a passos lentos no mundo corporativo, mas que ganhou muito destaque durante a pandemia, foi a adoção do trabalho remoto. De acordo com a 13ª Pesquisa Aon de Benefícios, realizada no Brasil com 808 empresas de mais de 30 segmentos diferentes da economia entre 2020 e 2021, 73% das empresas atualmente mantêm algum regime de trabalho remoto. No passado, esse índice era bem menor: 17,5% em 2016/2017 e 21% em 2018/2019. Era também menos abrangente, sendo mais comum em cargos de liderança, administrativos e especialistas.
Inicialmente adotado no mundo todo para reduzir o número de novas contaminações pela COVID-19, esse formato de trabalho mostrou-se interessante para empresas e colaboradores. Em muitos casos, gerou ganhos de produtividade – fator observado por 61% dos entrevistados na pesquisa. Mas, para que funcionasse adequadamente para os dois lados, foi necessário promover adaptações, como a oferta de auxílio financeiro para custear gastos com energia elétrica, internet e telefone – benefício apontado por 32% das empresas. Mais da metade (56%) das corporações passou a fornecer subsídio de até R$ 100,00. O assessoramento e acompanhamento das condições ergonômicas no ambiente doméstico foi outra medida adotada, sendo implementada em 36% dos casos.
Historicamente visto como um luxo, trabalhar remotamente – principalmente em casa – tem transformado uma solução provisória em uma mudança duradoura e fundamental. Com o deslocamento reduzido, alguns indivíduos encontraram mais tempo para se dedicar à família e ao autocuidado, como se exercitar e cozinhar com mais frequência. Por isso, é natural que muitos queiram continuar aproveitando os benefícios que o modelo oferece. Uma outra pesquisa da Aon, 2021 Global Wellbeing Survey, indica que mais da metade dos funcionários prefere permanecer trabalhando remotamente o maior tempo possível. O estudo analisou mais de 1.600 empresas de 41 países diferentes – incluindo o Brasil, sobre o impacto do bem-estar individual e organizacional nos resultados dos negócios.
A mudança para ambientes de trabalho remotos durante a pandemia do coronavírus mostrou que o bem-estar, o trabalho e a cultura corporativa realmente são interconectados e, geralmente, dependem das conexões dos colaboradores. Na pesquisa global, quando perguntados sobre quais barreiras impediram as empresas de fazer mais para desenvolver conexões de trabalho significativas, senso de pertencimento e inclusão social, o trabalho virtual/remoto foi um dos principais motivos, sendo apontado por 27% das companhias.
É um desafio que as empresas estão avaliando como superar em todos os aspectos. Não basta apenas treinamento sobre os métodos mais eficientes para trabalhar remotamente, é necessário também uma maior supervisão da qualidade e atuação. Além disso, vale lembrar que, enquanto algumas pessoas se beneficiaram da flexibilidade de trabalhar em casa, outras lutaram com outras prioridades concorrentes, como ajudar as crianças nas aulas online e fazer refeições em família.
Para tentar trazer maior equilíbrio neste modelo, muitas corporações pretendem funcionar no modo híbrido. No Brasil, 54% pretendem permitir o trabalho remoto entre duas a três vezes por semana, além de 31% que deixará essa escolha livre ao colaborador.
Conexões sociais são essenciais e o isolamento provocado pela pandemia apenas comprovou isso. Desenvolver conexões de trabalho significativas, um sentimento de pertencimento e inclusão social são catalisadores para o envolvimento dos funcionários. Muitos negócios já estão criando espaços compartilhados para incentivar a colaboração. Além disso, com uma força de trabalho remota crescente, ações coletivas como corridas e caminhadas beneficentes, clubes sociais ou esportivos, dias de voluntariado e encontros esporádicos se tornarão cada vez mais fundamentais para manter e ampliar o bem-estar de todos. Para este novo cenário, é importante que se reconheça a relevância que o bem-estar desempenha na percepção e na retenção dos colaboradores, tornando-se elemento chave nas discussões estratégias empresariais em todo o mundo.
* Rafaella Matioli, Diretora de Health & Human Capital Solutions da Aon Brasil e Erika Vaz, Consultora Sênior de Pesquisa e Tendências de Benefícios da Aon Brasil.