ARTIGO
O cateto da hipotenusa e os tempos pós-normais
Alguns acreditam que construir um tobogã no meio da empresa é torná-la inovadora, mas os tempos que vivemos são tempos pós-tempos normais, que carregam nos ventos da revolução três palavras: contradições, complexidade e caos.
Pelos labirintos corporativos novas expressões são sussurradas: Quarta Revolução Industrial, destruição criativa, inovação disruptiva, Era Cognitiva e dos makers, mundo Vuca (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), blockchain, hackatons, cocriação e outras tantas tendências exponenciais. E aposentam-se os velhos modelos de negócios, como a “eficiência operacional” de Adam Smith, a planta automotiva de Henri Ford e as cinco forças de Michael Porter.
São tempos da humanoide Sophia, que ganha cidadania da Arábia Saudita e começa a questionar por que as mulheres árabes não têm direitos iguais aos homens. Tempos do MIT e seu mantra “seja desobediente”. Não se pode mudar o mundo sendo obediente. O mundo da inovação, do avanço científico e social, é daqueles que não perguntam se devemos mudar, mas como mudar.
No Reino Unido, a Philip Morris cria a campanha “Um futuro livre de fumaça”, para ajudar as pessoas a pararem de fumar. Depois de se tornar a empresa de cigarros mais bem-sucedida do mundo, investe em produtos sem fumo.
Nesses nossos tempos, a Nestlé cria, na China, um assistente de inteligência artificial para responder na casa das pessoas perguntas sobre nutrição. A gigante de alimentos agora é uma empresa de tecnologia. Novas competições?
Mais exemplos? A L’Oréal lança sua Internet das Coisas: um sensor projetado para colocar na unha, que permite ao usuário rastrear suas exposições ao sol e combater os riscos de câncer de pele. Novos mercados?
E o Ålandsbanken, banco europeu, cria o Baltic Sea Card, cartão de crédito que calcula o impacto do CO2 de cada transação e gera relatório mensal com perfil climático e custo do carbono.
Para pensar o futuro, você terá que investir em valores e propósito, em inovação empírica, no fim da intermediação entre marcas e clientes, no data tsunami (crescimento sem precedentes do tráfego de dados), na educação de alto impacto, na igualdade global… a lista é grande.
E vai ter que ter tempo para, como os romanos antigos, pensar em corpo são, mente sã e alma sã.
Aqui vão algumas dicas. Na livraria da Harvard Business Review, os livros mais vendidos são da série Emotional Intelligence Collection, formada pelos títulos Felicidade, Resiliência, Mindfulness e Empatia. Em Nova York, o sucesso é o ônibus da meditação, 30 minutos de “quebra de mente” para profissionais ocupados. Na Universidade de Stanford, um dos cursos mais procurados é o Designing Your Life.
São tempos fabulosos, de muito trabalho e novas perguntas. Não podemos nos deixar ser seduzidos pelo operacional. Precisamos ter tempo para pensar o que faremos com um mundo construído no pós-Segunda Guerra Mundial. O que faremos com ONU, FMI, Banco Mundial, Basileia? Com o cateto da hipotenusa que ensinamos aos pequenos alunos nas escolas tradicionais?
E o Brasil precisar pensar qual seu projeto de futuro e de nação inovadora. Somos o único país entre as 20 maiores economias do mundo que não tem um lugar apropriado para pensar o futuro da nação, independentemente de presidente ou linha política. Nos Estados Unidos, esse lugar existe desde 1929.
É impossível fechar a conta de uma nação inovadora se estamos em 80ª posição em competitividade global pelo Fórum Econômico Mundial; na 98ª em empreendedorismo no Global Entrepreneurship Index (GEI); na 69ª em inovação pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual; e, pelo IMD, em antepenúltima em eficiência empresarial e penúltima em eficiência política. Ou enquanto caímos no ranking da corrupção da Transparência Internacional de 69° lugar em 2014 (que já era ruim) para 96° em 2017. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU somos 79º. Será que a única luta que nos restou foi pelo futuro?
Em tempos pós-normais, é urgente o Brasil tomar decisões de futuro. Bem-vindo ao novo normal. Como disse o futurista William Gibson, o futuro já está aqui, apenas distribuído desigualmente.
*Professor, fundador das empresas 5ERA, Gaia e Humanoide Brasil e membro do World Futures Studies Federation (WFSF). Em 2017, foi um dos palestrantes mais bem avaliados do CONARH – Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas, promovido pela ABRH-Brasil
MELHOR
Feminino e masculino
Basta olhar sua empresa para perceber que existe um ritmo acelerado de mudanças e transformações. Tudo é colocado na berlinda das revisões, e a liderança não passa incólume. Como afirmam Raj Sisodia e Nilima Bhat, no recém-lançado livro Liderança Shakti (Editora HSM), “a liderança existia para manter a ordem; hoje, trata-se de saber navegar na ambiguidade. No passado, muitas coisas eram centralizadas; hoje funcionamos conectados em rede com nossos pares. (…) O poder era mantido com rédeas curtas e agora é distribuído. (…) O líder era o chefe inquestionável, poderoso e controlador; agora o líder precisa ser um catalisador, inspirador que dá poder”. Em outras palavras, o que os autores dizem é que, antes, predominavam os aspectos masculinos na liderança. Agora, é preciso dar mais espaço aos aspectos femininos. E nada melhor do que, no mês do Dia Internacional da Mulher, colocar na mesa para discussão o feminino (e o masculino) no trabalho, nos homens e nas mulheres! E esse é o tema central da edição de março da revista Melhor – Gestão de Pessoas.
E por falar em revisão, a edição também traz uma entrevista com Alexandre Pellaes, especialista em novos modelos de gestão, fundador da Exboss e sócio da 99 Jobs. Para ele, vivemos numa era de ressignificar o trabalho, porém, empresas, indivíduos e o RH ainda não sabem muito bem como fazer isso. “A organização precisa ter uma discussão saudável com os seus colaboradores no sentido de repensar os papéis de empresa e funcionário. Trata-se de uma conversa pesada, pois os personagens desse diálogo saem da zona de conforto”, diz.
Assinatura:
Tel. (11) 3039-5666
www.revistamelhor.com.br
[email protected]
SECCIONAIS EM AÇÃO
Oficinas da ABRH-MG estão de volta
A ABRH-MG retomou a série de oficinas Circuito RH e o primeiro módulo de 2018 vai ocorrer no próximo sábado, 17, das 8h30 às 13h, no IBS/FGV, em Belo Horizonte. Com o tema Sala de aula invertida e metodologias ativas de aprendizagem, a oficina vai ser conduzida por Leonardo Drummond Vilaça, coordenador de Inovação Acadêmica do Grupo Ânima.
O valor da inscrição é de R$ 80 para associados da ABRH; não associados pagam R$ 150.
Informações:
www.abrhmg.org.br
[email protected]
Tel. (31) 3227-5797
Para fazer download desta edição do Pessoas de ValoRH, clique aqui.