*Por Tatiana Pimenta
Empatia, em síntese, é a capacidade de se colocar no lugar do outro, experimentando seu ponto de vista. É uma característica inata ao ser humano e, diante da consciência de sua necessidade para relações mais saudáveis, pode ser exercitada de forma consistente e ponderada. Praticar a empatia promove a quebra de preconceitos, amplia nossa percepção, enriquece opiniões e soluciona conflitos que parecem incontornáveis. Por isso, é uma habilidade tão cara aos relacionamentos pessoais e profissionais, sendo essencial para aqueles cuja função é gerenciar ou liderar equipes de trabalho.
Entenda melhor o conceito de empatia. Compreenda porque ela é tão benéfica para o ambiente profissional — assim como demais aspectos de sua vida.
Empatia e reconhecimento da individualidade
Aquela máxima, tantas vezes repetida pelas mães zelosas, de que “você não é todo mundo”, adquire uma nova conotação quando nos propomos a discutir o pensamento empático.
Talvez, nossas sábias progenitoras estivessem, justamente, nos estimulando a essa postura. Nós que entendíamos errado…”Você não é todo mundo” significa que seu eu não deve ser transformado em medida para avaliar a todos, como se sua ótica pudesse ser a única resposta plausível aos acontecimentos.
Cada um de nós é um conjunto de vivências singulares, emoções particulares e interpretações decorrentes das experiências empíricas e intelectuais que tivemos ocasião de saborear — ou amargar. Logo, o que pode ser simples e óbvio, de acordo com seu ponto de vista, pode ser um verdadeiro mistério para o outro ao seu lado. E vice-versa.
“Todo mundo” gostou daquele filme. Você, não. “Todos” amam aquela pessoa. Você, não. “Qualquer um” pode executar tal tarefa. Você, não.
Já se deu conta disso? Do embate entre um senso de coletividade, de unanimidade, e suas próprias conclusões, que apontam num sentido oposto?
Essa noção nos conduz ao entendimento de empatia porque, quando notamos nossa diferença, estamos mais aptos a respeitar a diferença do outro.
Não existe “todo mundo”. Mesmo quando fitamos um mesmo objetivo, cada um de nós o faz de modo exclusivo e por motivos distintos. Isso se descobre facilmente durante uma conversa franca.
O ser empático é um ouvinte interessado
Empatia e psicologia têm íntima ligação porque ambas estão preocupadas em desligar os “pilotos automáticos” das certezas redundantes — e equivocadas. O conceito é igualmente caro a áreas do saber como filosofia e sociologia, uma vez que também são ciências que privilegiam perguntas e análises desraigadas de estereótipos.
São ciências de escuta, de interrogações interessadas na variedade de hipóteses que o ser humano é capaz de suscitar. Ciências que celebram a diversidade e a individualidade como única convicção.
O outro não nos é inatingível. Ele se torna incompreensível apenas quando não nos dispomos a realmente escutá-lo; quando nossos juízos prévios antecedem e servem de parâmetro para qualquer explicação ou entendimento que nos possa ser revelado.
A empatia nos desacomoda. Convoca o fim de uma surdez e de uma cegueira narcísica.
Não somos “todo mundo”. Não somos ponto referencial para o bom, o certo, o melhor. Não somos o padrão de conduta ou opinião.
Entender essa premissa nos liberta, ao mesmo tempo em que solicita flexibilidade e nos investe da responsabilidade de um despertar constante.
Por isso, ser empático é abandonar preconceitos limitantes, substituindo o comportamento egocêntrico por atitudes que denotam real inteligência e ética.
Empatia e liderança: por que essas palavras caminham juntas?
O líder de uma empresa, de uma organização, de um grupo de apoio, de um partido político, de um projeto, de opinião ou de audiência, só conquista sucesso quando desenvolve sua empatia. Do contrário, ele é ou um fracasso ou um ditador (ou ambos).
Em função de diferentes motivos — medo, necessidade e falta de opção, por exemplo — um líder não empático pode até perdurar no cargo, durante um tempo. Mas fatalmente será substituído, assim que a oportunidade surgir.
Quem lidera, precisa ter um olhar de atenção. Deve entender que motivações distintas movem cada um dos indivíduos sob sua tutela.
No caso de um líder de equipe profissional, é bastante evidente o resultado da falta de empatia. A baixa produtividade e proatividade, a alta taxa de rotatividade dos funcionários, ausências e conflitos são apenas alguns indícios recorrentes.
A regra de ouro de qualquer liderança é saber ouvir. É assim que reconhece talentos, identifica dificuldades, estimula inovações e compõe equipes com competências diversificadas.
Um líder empático não procura espelhos de si. Compreende que as funções que delega exigem personalidades compatíveis com as especificidades daquela incumbência. A pluralidade é, portanto, uma sábia estratégia.
Liderar exige o reconhecimento da importância das diferenças
O bom líder sabe que, se não praticar a empatia, acaba se sobrecarregando, pois, ao não enxergar os outros, lhes tira a autonomia de ações elementares.
Ele sabe que, se esperar apenas obediência como resultado de suas orientações, em breve encontrará colaboradores cansados, incapazes de buscar soluções para problemas cotidianos, dispostos a abandonar o emprego assim que uma nova oportunidade lhes ocorrer
Liderança não é presunção de onisciência! Não basta estabelecer metas sem avaliar a coerência entre essas e as reais condições dos funcionários.
A entrega está aquém do esperado? Conclusões precipitadas ou ameaças não resolverão a divergência. O líder sensato lança mão da empatia e procura averiguar a origem da dissonância, questionando o colaborador sobre os motivos.
Ele não impõe sua verdade. Escuta, descobre se há alguma razão pessoal envolvida, se o prazo é incompatível com o objetivo, se existe alguma carência de aprendizado. Descobrindo o entrave, pode negociar soluções, apresentar alternativas. É assim que fortalece e justifica sua posição na empresa.
Sem empatia, um líder não é mais que um robô — prestes a ser substituído por uma inteligência que agregue sintonia aos processos.
Qual é a diferença entre empatia e simpatia?
Por vezes, confundimos essas palavras, embora exista uma distinção crucial entre ambas. Quando dizemos que sentimos simpatia por alguém, estamos afirmando uma afinidade com seu modo de ser.
Geralmente, definimos uma pessoa simpática como aquela que revela bom-humor, gentileza, afabilidade e um caráter mais extrovertido.
Uma pessoa pode ser extremamente simpática sem, contudo, ser empática.
A simpatia é uma espécie de polidez, um senso de ser agradável em encontros e diálogos. Já a empatia nem sempre é tão sorridente. Uma pessoa empática pode ser mais sisuda, introspectiva, silenciosa. É alguém analítico, observador, que não se preocupa em oferecer aos outros aquilo que eles querem — mas, sim, o que precisam.
Empatia não pressupõe harmonia de gostos e pontos de vista. Empatia se constrói na capacidade de interpretar o outro, independentemente da simpatia mútua.
Simpatia pode, inclusive, ser utilizada como artifício para camuflar uma falta de empatia por alguém. Podemos ser solícitos e lisonjeiros, escondendo nossas impressões sobre uma pessoa, apenas porque esse comportamento é mais eficiente para nossos objetivos. Não é algo negativo. Ao contrário, é o que possibilita uma série de relações com as quais precisamos lidar, mantendo uma postura socialmente apreciável.
A empatia não se sustenta com atitudes superficiais. Exige uma profunda conexão com emoções, necessidades e percepções alheias, num esforço legítimo de vestir a pele do outro, para decifrar suas atitudes e escolhas.
Empatia e liderança
Quando falamos em liderança, a noção exata da diferença entre empatia e simpatia é fundamental. Um bom líder, não necessariamente, é a típica figura simpática. Também não deve imaginar que sua missão, em conversas com colaboradores, é agradá-los. Essa atitude pode até inspirar uma boa impressão, num primeiro momento. Mas, em virtude de ser pouco efetiva e transformadora, não trará resultados.
Num exemplo prático, o líder que confundir simpatia com empatia pode ouvir desculpas para faltas ou não cumprimento de regras e, buscando deixar o colaborador confortável, aceitará as justificativas, evitando interrogações mais incisivas. Como consequência, não resolve o problema.
Já o líder empático, segue um caminho oposto. Não se preocupa em ser querido, a partir de uma atitude condescendente. Ele, de fato, deseja compreender, saber o que causa a irregularidade do funcionário. Lógico, ele precisa ter tato para conduzir suas perguntas — afinal, seu objetivo não é acuar o interlocutor e, sim, decifrá-lo.
Não é um exercício fácil, pois pressupõe isenção de juízo prévio e abandono da própria experiência como mediadora de conclusões. Contudo, liderança implica o desenvolvimento de habilidades complexas.
A empatia é, sempre, um desafio. Porém, ao administrá-la de modo competente, muitos obstáculos são produtivamente superados. Ouvir e constatar o que as pessoas precisam, para trabalhar com maior afinco e integração, é o que transporta o sentido de colaboração do papel para a prática.
Você é uma pessoa empática?
Lembre que a empatia faz parte de sua natureza. Ela pode estar meio “enferrujada” em seu cotidiano, mas pode ser estimulada a partir do momento em que você assume a responsabilidade de deixá-la mais presente em suas relações.
Uma forma de facilitar o desenvolvimento desse caráter é saber reconhecer, em si e nos outros, os sinais da empatia.
O hábito de questionar é uma das principais virtudes das pessoas empáticas. Questionamento sincero, que realmente objetiva notar pontos de vista que lhe escapam, que não são tangíveis através de experiências diretamente vivenciadas.
Pessoas empáticas são, por consequência, excelentes ouvintes. São atentos e dispostos a aprender. Gostam de ler pessoas, interpretando não apenas palavras, mas também emoções e linguagem corporal.
Empatia é sinônimo de uma curiosidade comprometida com o respeito. É uma preocupação ativa, que não se confunde com caridade, pena ou intromissão.
Empatia é conexão, que faz do encontro das diferenças, a ocasião de um aperfeiçoamento mútuo.