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ball-and-chain-2624325_skeeze_PixabayDeflagrada em fevereiro, a Operação Canaã – A Colheita Final, realizada pelo Ministério do Trabalho em conjunto com a Polícia Federal, autuou, na quinta-feira (15), a empresa Nova Visão Assessoria e Consultoria, responsável pela Igreja Cristã Traduzindo o Verbo, por manter 565 pessoas em condição semelhante à de escravidão. As vítimas trabalhavam em nove fazendas de produção hortigranjeira do grupo em Minas Gerais e na Bahia e em cafés, restaurantes, casas comunitárias e um posto de gasolina no estado de São Paulo.
Os autos de infração também mencionam o crime de tráfico de pessoas, pois as vítimas, normalmente pessoas em situação de vulnerabilidade, eram aliciadas e hospedadas em casas comunitárias de São Paulo. Lá eram doutrinadas e depois enviadas para o trabalho em algum dos empreendimentos do grupo.

Além do trabalho escravo, a igreja está sendo autuada porque 438 trabalhadores não tinham sequer registro em Carteira de Trabalho e 32 eram adolescentes em atividades proibidas para menores.

Nas fazendas, os trabalhadores não recebiam remuneração, apenas casa e comida. A jornada de trabalho também não era controlada, e eles não tinham acesso a nenhum direito trabalhista. No meio urbano, parte das vítimas não tinha garantido qualquer direito laboral. Outros trabalhadores tinham a maioria dos direitos suprimidos.

Apesar de tudo isso, os auditores-fiscais não conseguiram retirar os trabalhadores das fazendas e dos outros empreendimentos para encaminhar ao Seguro-Desemprego para Resgatado, como sempre ocorre nesses casos. Segundo o coordenador da operação, o auditor-fiscal Marcelo Campos, as vítimas não se achavam exploradas e dizem trabalhar em nome da fé e da coletividade.

“Essa foi uma operação diferente de todas as outras. Normalmente, quando os fiscais chegam com a polícia, os trabalhadores ficam aliviados, porque nos enxergam como salvadores. Neste caso não. Eles achavam que nós éramos demônios que os estavam retirando de sua missão e não concordaram em deixar os locais”, relata.

Nesse caso, a empresa será obrigada a afastar os trabalhadores e regularizar a situação deles. Os que não tinham a Carteira de Trabalho assinada deverão ter o registro incluído no documento. Os 565 terão que ser receber retroativamente pelos serviços prestados. A igreja deverá ainda providenciar o retorno das vítimas aos seus locais de origem.

Foto de abertura: Skeeze/Pixabay