Por Luis Antonio Namura Poblacion*
Estar preparado para enfrentar um mercado de trabalho em constante mutação é o desafio das novas gerações. Somado a isso, é preciso conhecimento e estrutura para enfrentar as crises cíclicas na economia, que afetam diretamente o emprego. Dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ) mostram que 13,7% dos adultos que não concluíram o ensino médio ficaram desempregados; enquanto que entre os que têm nível superior completo, este índice foi de apenas 5,3%. Isso comprova que a taxa de desemprego de indivíduos que interromperam seus estudos na educação básica foi quase o triplo da registrada entre aqueles que terminaram uma faculdade.
Os índices são preocupantes. Mais da metade dos adultos brasileiros não chegam ao ensino médio. E falta mão de obra qualificada. Para piorar, o país não investe no ensino profissional. Sem educação de qualidade, a parcela mais pobre do país não tem acesso a um bom emprego. Sem falar no retrocesso: programas educacionais como o Fies tiveram as vagas reduzidas e o MEC encerrou o programa Ciência Sem Fronteiras na modalidade de cursos para graduação.
Aliado à falta de apoio governamental para a educação, vivemos em um país com extrema desigualdade social, com altas taxas de violência e serviços básicos precários, fatores que influenciam diretamente no tempo de escolaridade. Muitas vezes a necessidade do sustento fala mais alto do que os livros e cadernos. Relatório do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostra que a média de escolaridade no Brasil é de apenas 7,8 anos.
Muito se fala sobre a reforma do ensino médio, que é realmente necessária. No entanto, as deficiências encontradas nos anos finais da educação básica – e que trazem por consequência dificuldades de ingresso na faculdade e no mercado de trabalho – são oriundas, na maioria das vezes, da má formação dos alunos lá atrás, no ensino fundamental, que é quando se começa verdadeiramente o aprendizado das diversas disciplinas em sala de aula. Aí está o cerne do problema. Para ingressar no ensino médio e ter um bom desempenho, crianças e adolescentes precisam primeiro ter passado por um Ensino Fundamental de qualidade.
É verdade que uma melhora vem acontecendo, a passos lentos, mas vem. O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) tem apresentado médias crescentes ao longo dos anos. Em 2015, por exemplo, a média das notas nos anos iniciais do ensino fundamental ficou em 5,5, ultrapassando a meta que era de 5,2. É pouco ainda, mas já indica um avanço.
Não há receita de bolo, ou melhor, existem várias receitas, mas falta o principal: o comprometimento do governo com a educação. Para começar uma mudança profunda, não se pode deixar de fora aqueles que exercem o papel mais importante em todo o processo de transmitir conhecimento às nossas crianças: os professores. Alguns deles, também, são mal formados. O censo do MEC mostrou que 15% dos docentes da educação básica não têm ensino superior. Desmembrando esse número, vemos que na educação infantil, 6,2% dos professores estudaram somente até o ensino fundamental e 18,1% não terminaram nem o ensino médio. Já no ensino fundamental, 3,7% dos professores que estão lecionando não terminaram nem o ensino médio e 5% deles estudaram só até essa etapa. Cursando o ensino superior, são apenas 6% dos educadores.
As prefeituras, responsáveis por 61,3% das escolas brasileiras, têm que arregaçar as mangas! É preciso oferecer cursos de formação e atualização para nossos educadores, dando condições para que eles desenvolvam aulas mais completas e ricas de conteúdo, tendo, inclusive, a tecnologia como aliada. Eles precisam ter acesso a uma metodologia atualizada de ensino, moderna e instigante, que contribua não só para transmitir os conteúdos didáticos tradicionais, mas que desenvolva também nos alunos a criatividade, a vontade de ler e de buscar novos conhecimentos, habilidades cognitivas e socioemocionais fundamentais para prepará-los como cidadãos e para o novo mundo do trabalho.