Especialistas dão dicas para chamar atenção em seleções cada vez mais automatizadas
Por Caroline Nunes – Rio de Janeiro
Dos algoritmos das redes sociais a assistentes de voz, como a Alexa, a inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente em tarefas do dia a dia. No mercado de trabalho não seria diferente. A IA passou a desenvolver papéis importante no recrutamento de profissionais, por meio da padronização de processos e avaliação de candidatos para que, com mais agilidade e menos custo, a empresa contrate os melhores talentos para a vaga.
De acordo com uma pesquisa da TIC Empresas, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.Br), divulgada pela Forbes em 2021, 22% das pequenas empresas e 37% das grandes já utilizavam naquele ano a IA nas áreas de Recursos Humanos e Gestão. É o caso da Adecco, uma empresa de Recursos Humanos que oferece seus serviços a mais de 100 mil empresas pelo mundo.
— A IA permite, além de processos padronizados, acesso rápido aos melhores candidatos e às respectivas avaliações técnicas e comportamentais. O RH acessa indicadores e métricas específicas, tornando o recrutamento cada vez mais inteligente — explica Bianca Machado, Diretora de Talent Solution da Adecco.
A inteligência artificial pode ser incorporada desde o recrutamento, ao avaliar quais candidatos estão mais aptos à vaga, até o primeiro dia de trabalho.
A Gupy atende três mil empresas, utilizando a inteligência artificial em duas etapas dos processos seletivos. A ferramenta extrai as informações do documento para preencher o perfil profissional da pessoa automaticamente na plataforma. E ordena os currículos de acordo com os requisitos definidos pela empresa. Mas não exclui nenhum candidato: 100% dos currículos ficam disponíveis na lista para que o RH possa acessá-los.
— Basicamente, ela (a inteligência artificial) faz uma primeira leitura de todos os currículos, sendo capaz de interpretar o contexto de todos os campos do currículo, e com base nisso ordena os perfis das pessoas candidatas em uma lista, segundo os pré-requisitos das empresas — aponta Guilherme Dias, porta-voz e cofundador da Gupy.
IA não é um filtro
A tecnologia não é apenas uma ferramenta para buscar uma palavra-chave como muitos pensam, ela busca compreender o contexto do currículo, entendendo quando um candidato tem potencial para uma vaga.
— Já não é necessário que as pessoas recrutadoras realizem práticas antiquadas como pré-requisitos de corte cheios de vieses ou até filtros em plataformas digitais para selecionar as pessoas candidatas, pois a tecnologia consegue fazer uma primeira leitura dos currículos e ordená-los segundo a afinidade com a vaga. Desta forma, nenhuma candidatura é excluída do processo seletivo a menos que a pessoa recrutadora realize esta ação — aponta Dias.
Para um candidato que não elabora um currículo da forma adequada é que pode ser prejudicial. Por isso, é importante levar em consideração alguns fatores:
— Usar palavras-chave que estão de acordo com os requisitos da vaga; Inserir no currículo o seu objetivo profissional, como um título; e utilizar palavras como “forte atuação”, “expertise” e “significante” em uma descrição podem ajudar a sugestionar o currículo para o recrutador, pois são palavras que eles utilizam também para realizar a busca, quantificar seus resultados de maneira assertiva e direta. Imagens e fotos dificultam a leitura, então, é importante certificar-se de que o sistema consegue ler o currículo — aconselha Bianca Machado.
Adaptação às novas tecnologias
Com o avanço das novas tecnologias, a área de Recursos Humanos precisa se adaptar. A utilização da inteligência artificial no setor otimiza as funções desses profissionais, principalmente quando se fala de processos seletivos.
— O grande impacto da IA é que ela traz uma velocidade muito maior dentro do processo. Ela permite encontrar e organizar, fazendo com que a gente ache muito mais rapidamente o candidato para a vaga — explica Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
Para o especialista, os acertos da inteligência artificial são maiores que os erros, o que justifica o crescimento quando o assunto é mercado de trabalho. Em contrapartida, cabe ao candidato, ainda segundo Sardinha, se adaptar à tecnologia, que busca um currículo cada vez mais objetivo e com informações realmente relevantes.
— A inteligência artificial não conversa com os candidatos como um humano. Dessa maneira, é muito importante que os candidatos sejam claros. A IA trabalha com palavras-chaves que ela encontra. As pessoas precisam ter um cuidado maior — pontua.
Apesar desse alerta, a tecnologia, além de beneficiar os recrutadores e a própria empresa, ajuda também os candidatos. Se antes existia a possibilidade de que currículos fossem perdidos, a IA permite que eles sejam armazenados por mais tempo por meio de bancos de talentos. Isso permite que o candidato tenha uma chance maior de conquistar uma vaga, mesmo que no futuro.
Dicas para montar um currículo
Seja objetivo
Descreva, de forma objetiva e clara, apenas o que for relevante para a vaga a que está se candidatando, como ferramentas que sabe utilizar, atividades realizadas e informações que considere fundamentais.
Filtre as experiências
Não é preciso contar todo o seu histórico profissional no currículo. Reflita sobre suas vivências e suas formações e, a partir disso, filtre o que for relevante para a vaga. É importante levar em consideração todas as informações e experiências que podem ser um diferencial.
Cite experiências
Não é preciso citar apenas os trabalhos formais que teve. Qualquer experiência é valida. Pode ser um curso, um trabalho voluntário ou uma matéria optativa na faculdade. Vale até mesmo algum emprego informal. O que importa é a experiência adquirida.
Descreva habilidades
Não se esqueça de citar ferramentas, programas, técnicas e sistemas envolvidos nas atividades já realizadas.
Cite exemplos
Concentre-se em mostrar o que você já fez, e não apenas em dizer o que sabe fazer. Dê exemplos de situações em que sua habilidade apareceu.
Diga suas vivências
Talvez você tenha experiências que não se enquadram em lugar algum porque não são tão tradicionais, mas que fizeram a diferença para a sua formação profissional ou o ajudaram a desenvolver uma habilidade muito importante. Nesse caso, é importante citá-las no currículo.
Link da matéria original: https://extra.globo.com/google/amp/economia/emprego/noticia/2023/04/inteligencia-artificial-e-trabalho-aprenda-a-montar-o-curriculo-ideal.ghtml