ABRH Brasil

Por Daniel Schnaider*

Você pode não ver, mas os sinais estão bem aí, na sua frente. E acontecem o tempo todo. É verdade, nem sempre são claros ou fáceis de interpretar, mas, não importa, eles são verdadeiros e vão mudar tudo sobre nossas vidas.

Às vezes aparecem nos filmes; o primeiro deles foi em Metrópolis, de 1927, do austríaco Fritz Lang, depois fomos introduzidos a brilhante tecnologia de Matrix, Controle Absoluto, Exterminador do Futuro ou Eu, Robô e incontáveis outros filmes décadas depois.

Em paralelo, começaram os desafios a capacidade humana, Deep Blue 2 vencendo o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, em 1997, Watson vencendo Ken Jennings e Brad Rutter, dois dos melhores jogadores no programa Jeopardy de perguntas e respostas, em 2011; AlphaGo; o programa que venceu, em 2016, Lee Sedol, um dos melhores jogadores do mundo de Go, um jogo de estratégia chinês em um tabuleiro de 19×19,no qual o número de possibilidades é maior do que o número de átomos no conhecido universo.

Os sinais deixam de ter o formato de TV digital para sua forma física. Como no caso de Sophia, o robô humanoide social desenvolvido pela empresa Hanson Robotics de Hong Kong ativado em 2016, que consegue expressar dezenas de emoções ao conversar com seres humanos. Ela está longe de ser perfeita, mas muito mais longe de ser apenas ficção.

O mundo se torna mais rico, mas seus empregados não.

Por meio de relatórios econômicos também podem-se reconhecer as mensagens. Depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma rápida expansão na produtividade da força de trabalho, PIB Real per capita, emprego no setor privado e renda familiar mediana. Após o milênio, a produtividade continuou a subir, mas houve um comprometimento dos outros indicadores . O mundo se torna mais rico, mas seus empregados não.

No artigo O Futuro do emprego: Quão suscetíveis são os empregos à computadorização, os cientistas Carl Benedikt Frey e Michael A. Osborne, da Universidade de Oxford, mostram como 47% dos empregos nos Estados Unidos estão em alto risco de desaparecerem. Eles também mostram a relação negativa entre salário e educação e a probabilidade do desemprego. Menos educação e/ou menos salário, maior risco de ir para a rua.

Esses alertas que, por um lado, se repetem de tantas formas e meios como já apresentados neste artigo e, por outro, parecem ser invisíveis para a grande maioria, são comprovados em estudo da Pew Research, um think tank que mostra que a maior parte das pessoas acredita que muitas profissões estão em risco, menos as delas. Isso se chama em psicologia cognitiva viés da confirmação, a tendência de procurar, interpretar, favorecer e recordar informações de maneira a confirmar suas crenças ou hipóteses pré-existentes. É um tipo de viés cognitivo e um erro sistemático do raciocínio indutivo.

Acredito que a era do funcionário está entrando em uma tendência de fim.

Outro grande problema no reconhecimento dos sinais é o princípio de que: em time que vence não se mexe. Quando está tudo bem, está tudo bem. Ora, para que tomar qualquer medida se está tudo dando certo? O problema é que as crises econômicas não chegam quando nós estamos prontos ou quando escolhemos. Elas estão se tornando com o tempo mais ferozes e duradouras, como demonstrado por Bill McBride em seu blog Calculated Risk, e como sentido na pele por milhões de brasileiros na atual recessão. Quando a crise chega, dependendo de suas condições, pode ser tarde demais ou minimamente muito caro se reinventar.

Acredito que a era do funcionário está entrando em uma tendência de fim. Pode demorar 50, 100 ou 200 anos, mas o estilo de vida daquele colaborador conforme conhecemos nas últimas décadas não se sustenta. Diante desses fatos a pergunta que não quer calar é: o que fazer?

Não se trata apenas de máquinas e inteligência artificial – mas sua mistura com a globalização. Por exemplo, para fazer brochuras para minha empresa, cotei com três empresas nacionais e, no final, fechei com uma pessoa do Paquistão através de um site de economia colaborativa por 20% do preço da cotação mais barata e 5% da mais cara, ambas do Brasil. O trabalho demorou, mas ficou excelente.

O profissional moderno deve entender que ele é o produto e, como tal, deve trabalhar em novas versões de si mesmo, desenvolvendo novas habilidades, absorvendo conhecimento, desenvolvendo relacionamento, trabalhando sua marca pessoal e seu marketing, criando redes de seguidores onde exerce um mínimo grau de influência, criando novos serviços com resultados tangíveis que de preferência e sempre que possível podem ser medíveis financeiramente com Lucratividade, VPL, Payback, TIR, ROI, CAGR, etc.

É comum que funcionários não entendam o negócio da empresa onde trabalham, não leem, nem se interessam. Apenas executam a sua função em seu aspecto mais restrito. Sendo assim, não são capazes de inovar, de serem criativos, não entendem como seu trabalho impacta outras áreas para bem ou para mal os sócios ou os clientes.

Com base em análise do Fórum Econômico Mundial, um think tank, as 10 habilidades necessárias para a Quarta Revolução Industrial na qual vivemos são: resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, coordenação com outros, inteligência emocional, julgamento e tomada de decisão, orientação a serviços, negociação e flexibilidade cognitiva. Eu adicionaria mais três, aprendizado contínuo, proatividade e desenvolvimento de relacionamentos humanos profundos.

A falta dessas qualidades significa que uma máquina ou outra pessoa em algum lugar do mundo poderá torná-lo substituível. A soma dessas qualidades representa o intraempreendedor. Esse indivíduo está preparado para não só sobreviver, mas prosperar na, talvez, mudança mais radical que o mercado de trabalho já vivenciou.

Coloque-se no lugar de um empresário, quem você gostaria de ter na empresa, o funcionário ou o intraempreendedor? Os sinais estão em todos os locais e o momento é de agir

*Daniel Schnaider é economista, sócio diretor da SCAI Group e autor do livro Pense com Calma, Aja Rápido/ Foto: Keiny Andrade