ABRH Brasil

A ABRH Brasil lança este informativo semanal, com o propósito de oferecer informações objetivas, seguras e selecionadas.

Serão conteúdos e orientações, sobre temas que estão impactando o mundo do trabalho e se tornaram foco da atuação de RH, neste período em que todos estamos voltados para superação da crise provocada pelo COVID-19.

Para tanto, convidou especialistas e voluntários para integrarem o Comitê de Curadoria, que irá cuidar dos conteúdos, sempre observando as demandas do mundo corporativo.

O momento exige uma matriz para tomadas de decisões em um cenário cercado de incertezas, gerando a necessidade de ações preventivas em relação a uma pandemia sem precedente no mundo contemporâneo.

Agradeço a dedicação de todos que estão construindo um legado de solidariedade e compartilhando seu tempo em um momento tão singular para o mundo e, em particular, o nosso Brasil.

Paulo Sardinha

Presidente ABRH Brasil

 

A força da liderança com valores em tempos de crise

Ricardo Voltolini

“Os grandes navegadores devem sua reputação às tempestades”. Esta é uma frase do filósofo grego Epicuro que se aplica bem ao que está acontecendo com os líderes empresariais brasileiros no calor da pandemia do coronavírus. Em situações de exceção, com forte risco à vida humana e comoção pública, os líderes costumam reagir às circunstâncias, recorrendo com mais ênfase ao que, no limite, nos distingue a todos na hora de tomar decisões importantes: o nosso sistema de valores, resultado de nossos princípios morais e éticos.

O combate à doença e, principalmente, a adoção de medidas sanitárias extremas colocou frente a frente duas visões opostas de liderança:  a dos “pragmáticos”, que são contrários às estratégias radicais de confinamento por entenderem que elas matam a economia; e os “humanistas”, defensores da quarentena e da ideia de que nenhum vida humana vale menos do que toda a economia de um país.

Esta abordagem, vale destacar, nada tem de política ou ideológica, atendo-se tão somente a uma análise de atitudes e comportamentos demonstrados em posições públicas.

Difícil afirmar se há um grupo muito maior do que o outro. O fato é que é os poucos representantes do primeiro, ao se manifestarem, perderam pontos em sua reputação. Os do segundo, aparentemente em maior número,  ganharam a estima das pessoas ao comunicar medidas bem vistas pelo conjunto da sociedade. Natura e Magazine Luiza anunciaram garantia de emprego no meio da crise. Ambev começou a construir um hospital em São Paulo. Ipê, Cosan, Atvos e outras decidiram fabricar álcool em gel. Embraer, Weg e UsiMinas se comprometeram a buscar soluções para viabilizar a fabricação de respiradores. Muitas outras empresas se apressaram a doar dinheiro para máscaras e a criar fundos para apoiar os seus clientes de pequeno porte. “Só juntos iremos tão longe e tão rápido quanto a situação nos pede”, escreveu em seu Linkedin, Jean Jereissatti, CEO da Ambev, sobre a construção de um hospital em 40 dias. “É hora de cuidarmos uns dos outros. Das pessoas e do nosso ambiente de negócios”, disse no Linkedin Cristina Palmaka, CEO da SAP, justificando a adoção do trabalho remoto para os colaboradores. “Precisamos ter calma. O momento é de evitar demissões”, afirmou Luiza Trajano, em entrevista ao Valor. “Nosso primeiro desafio é cuidar da saúde do time”, confessou Leonel Andrade, CEO da CVC.

O combate ao vírus aproximou empresas do mesmo segmento de negócio. Itaú, Santander e Bradesco decidiram juntos doar 5 milhões de testes rápidos. Vivo, Claro, Tim e Oi também lançaram, em conjunto, uma campanha garantindo conteúdos gratuitos e bônus de internet.

Se os temporais, como disse Epicuro, fortalecem a reputação dos bons navegadores, crises globais como a do coronavírus representam uma excelente oportunidade de separar os líderes e empresas em dois grupos: os que, na hora de tomar decisões, agem orientados por valores humanos, como respeito às pessoas, altruísmo, solidariedade, prudência, temperança e justiça; e os que submetem esses valores ao arbítrio da lógica econômico-financeira, baseada em princípios muitas vezes nocivos à condição humana, como o egoísmo, a ganância, a deslealdade e a ideia de que os fins justificam os meios.

O estilo de liderança representado pelo primeiro grupo parece em processo de extinção—a julgar pela forte rejeição demonstrada, nessa pandemia, contra alguns de seus representantes. O do segundo grupo segue curva de alta. A ideia da liderança com valores não é exatamente nova. Richard Barret (o líder “dirigido por valores”), Charles Handy (o líder com “espírito ávido”), Peter Drucker (líder é “como ser”, não “como fazer”) e Jim Collins (o líder “Nível 5”) já trataram dela, em diferentes momentos.

No entanto, ela vem ganhando força nos últimos 10 meses com  o crescente aumento de iniciativas globais e manifestos pró-empresas mais sustentáveis. O mais recente Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro, na cidade de Davos, dedicou várias rodadas de conversa à ideia de um novo modelo de negócios baseado no propósito antes do lucro. Para colocar em prática esse novo modelo, será necessário um novo tipo de liderança, mais ética, transparente e íntegra, respeitosa em relação às pessoas e ao meio ambiente. Uma liderança disposta a se orientar por valores não só nas tempestades. Por que, nos tempos atuais, normais ou de exceção, só mesmo os valores serão capazes de gerar valor econômico e prosperidade.

Os traços de um líder orientado por valores

O que aprendi entrevistando 350 líderes CEOS brasileiros nos últimos 10 anos

Mais empáticos do que a maioria das pessoas, praticam uma virtude tipicamente feminina, que é o cuidar. São atentxs, preocupadxs e zelosxs em relação aos colaboradores e ás pessoas em geral. Mais do que a “escuta ativa”, realizam a “escuta afetiva.”

Com o ego sob controle, já saíram do paradigma do “eu” para o do “nós.” Não se preocupam mais em serem xs  “melhores do mundo.” Querem ser “melhores para o mundo”, por isso priorizam os interesses de todos os stakeholders. Gostam de fortalecer os elos de confiança, são colaborativxs, lideram pelo exemplo.

São altruístas, solidárixs e justxs. Não acreditam em prosperidade que não seja para todxs. Sentem a dor do outro como se fosse sua. Em tempos de crise, são xs primeirxs a mostrar apoio. Não só com palavras, mas com atitude. Podem abrir mão de um negócio lucrativo, se acharem que ele coloca em risco pessoas e meio ambiente.

São ecocêntricxs, intuitivxs, ativistas e extremamente éticxs. Gostam de servir a causas. E de educar. Foram xs primeirxs a entenderem e praticarem o conceito de sustentabilidade na gestão dos negócios. Não admitem nenhum tipo de decisão que coloque em risco a vida das gerações futuras.

Não se importam em ser ou parecer vulneráveis. Rejeitam as mentiras, ainda que convenientes. Preferem as verdades, ainda que duras. Abominam qualquer tipo de discriminação. Vivem bem com a diversidade. Humildes, gostam de aprender com o outro.

Como ABRH Brasil estamos no momento de ressaltar o quanto a gestão por valores fará a diferença em um mundo que mostra sede no compromisso de organizações com ambientes corporativos saudáveis. Valorizando pessoas e gerando resultados sustentáveis em toda a sua cadeia de stakeholders.

Ricardo Voltolini é diretor de Sustentabilidade da ABRH Brasil. CEO da consultoria Ideia Sustentável.

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