Por Mario Ernesto Humberg*
O Brasil ainda é visto externamente como o país do “jeitinho”, onde a corrupção era quase considerada normal (estamos em 76º no ranking de corrupção da Transparência Internacional). A maioria das pessoas admite que comete infrações de forma bastante constante, sem muita preocupação, nas ações do dia a dia. São comuns os exemplos: furto de energia, de água ou de sinal de TV por assinatura (4,2 milhões de residências); compra e venda sem nota ou recibo; assédio moral ou sexual (já atingiu 52% dos brasileiros); venda de produtos estragados ou vencidos; propina para evitar multas; enganar o árbitro em jogos; etc. Por que isso? Vários fatores se juntam para a explicação: comportamento histórico (sempre foi assim), alto custo legal, gigantismo e baixa eficiência do Estado, burocracia, justiça lerda, aceitação social, coleguismo, etc.
Os profissionais de Recursos Humanos, por sua posição como responsáveis pela contratação, treinamento e administração de pessoal nas organizações, podem e precisam ter atuação efetiva na mudança desses comportamentos. É preciso e possível sensibilizar as pessoas a abandonar a mentalidade de “levar vantagem em tudo” ou “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Parte desse trabalho educativo deve ser realizado dentro dos programas de treinamento e informação das empresas, enfatizando a importância da integridade pessoal, com disseminação e consolidação da cultura ética dentro e fora do trabalho. O fundamental é engajar as pessoas para fazer as coisas de forma correta, independentemente de eventuais punições.
O momento é muito favorável para a mudança. O noticiário sobre a Lava Jato e outras operações decorrentes da Lei Anticorrupção (Lei 12.846), com ações da Polícia Federal, Ministério Público e Justiça contra grandes empresas, seus dirigentes e agentes públicos vêm criando um clima de crescente irritação com os desvios, o que ajuda na implantação da cultura ética.
Mudanças já vêm ocorrendo nas empresas maiores com implantação de programas de ética ou integridade e compliance para evitar desvios, falcatruas e outras ilegalidades. É preciso generalizar o esforço e ir além da preocupação com o que se faz na empresa, para adotar comportamentos éticos no dia a dia, com a criação de nova mentalidade. Não basta evitar que se fuja das regras no trabalho, reclamar dos comportamentos inadequados de empresários e políticos e apoiar as medidas contra eles nas redes sociais.
A mudança precisa ser no comportamento de cada um, o que exige um trabalho interno nas empresas com foco duplo: formação de cultura ética para comportamento correto, o que cabe ao RH, e programa de ética e compliance para controle. O Brasil e o mundo estão aprimorando suas atitudes, e é preciso um esforço contínuo – e geral – para que a ética e a integridade sejam incorporadas tanto na atividade pública como nas pequenas ações do dia a dia.