Por Antônio Carlos Hencsey*
A sociedade, cada vez mais, tem trazido a ética como fator relevante e decisório para a escolha dos candidatos nas eleições de 2018. Mas, será que, de fato, esse tema tão importante e presente nos dias de hoje vai impactar realmente na escolha dos nossos próximos líderes? Infelizmente, no caminho em que as discussões e comportamentos coletivos ocorrem atualmente, a tendência é não.
A polarização fortemente presente no momento político contemporâneo impacta diretamente a possibilidade de se pensar de maneira ética. Fazendo um paralelo com o filósofo Karl Theodor Jaspers, que, em 1946, analisou o comportamento da sociedade alemã durante a ascensão e queda do nazismo, podemos concluir que a compreensão e a busca de soluções para sofrimentos e necessidades individuais, ou de grupos específicos, levam a um distanciamento moral, segregando as pessoas ao invés de aproximá-las.
A busca do bem-estar deve ser coletiva.
Isso significa que, quando há uma cisão dos interesses coletivos e, ao mesmo tempo, grupos passam a olhar e defender de forma polarizada e intensa os próprios interesses, caminhamos em direção oposta à ética, nos aproximando cada vez mais da exclusão, do ódio e de conflitos. Essa polarização política, portanto, turva os valores morais individuais levando ao ódio ou à repulsa por opositores, descartando assim a possibilidade do entendimento das diferenças e a tentativa de se encontrar denominadores comuns que favoreçam o país como um todo.
O que se vê hoje é trágico. Discussões vazias em redes sociais, simplesmente, pelo fato de haver visões diferentes para o mesmo problema. Ocorre algo similar ao avaliarmos as tolerâncias, ou intolerâncias, a comportamentos ilícitos praticados por figuras públicas de maior ou menor simpatia do eleitor.
O mais preocupante em nosso cenário atual é que esse conflito, muitas vezes, acontece de forma cega a quem o vive. Sob a bandeira da moral, ambos lados são manipulados, tornando-os submissos a uma pressão coletiva. Se o brasileiro realmente deseja uma sociedade mais justa e próspera, deve romper com esse funcionamento e buscar um caminho pautado no altruísmo, no correto como um valor em si, e na compreensão da necessidade do outro. A busca do bem-estar deve ser coletiva, baseada em prioridades e avaliada e estudada de forma que atenda a um plano de Estado e não de governo.
Além disso, é preciso cobrar de políticos o entendimento das necessidades gerais e priorizá-las em busca de uma construção sólida. Deve-se ter a consciência de que, para a construção de uma sociedade realmente ética, as ações executivas e legislativas nem sempre trarão ganhos para o próprio eleitor, mas, no futuro, impactarão positivamente a todos.
E, por fim, para que essas eleições sejam de fato um divisor de águas na velha cultura do jeitinho e da tolerância à ilicitude é preciso expurgar a aceitação aos atos corruptos de quem quer que seja, não importando se há ou não afinidade político partidária. O funcionalismo público nacional deve entender que o errado será sempre errado, e que o povo, em uníssono, não aceitará comportamentos antiéticos de quem quer que seja.