Por Paulo Sardinha*
A dura recessão que o Brasil enfrenta provoca consequências que terão seus efeitos sentidos no futuro. O país registrou, desde o início da crise, um expressivo crescimento no número de pessoas que foram viver em outra nação. Dados da Receita Federal mostram que, entre 2011 e 2017, aumentou em 165% a quantidade de emigrantes que foram buscar novas oportunidades em outras fronteiras. Essa tendência de saída é tal que tem se tornando normal ouvir histórias de algum conhecido que foi embora, muito provavelmente para Portugal ou Estados Unidos.
O grande dilema desse cenário é que o perfil desses imigrantes, em sua maioria, é de jovens com extrema capacidade e de altos executivos, que estão abandonando suas carreiras para abrir um negócio. São pessoas com currículos desejados por todas as organizações e que, certamente, farão falta quando houver uma retomada do crescimento econômico. E, no caso dos jovens, comprometemos a firmação de futuras lideranças com impactos, por exemplo, na produtividade das organizações. Daí, o país perde competitividade e a nação e seu povo empobrecem.
Em outras palavras, o país sofre profundamente no presente e sofrerá em futuro breve com uma dura fuga de capital intelectual.
A conjuntura se torna ainda mais preocupante quando olhamos para a pesquisa recém-divulgada pelo IBGE de que o país ainda possui 11,46 milhões de analfabetos.
Outro dado nada animador é o de que 23% dos jovens entre 15 e 29 anos (11,1 milhões de pessoas), em 2017, não trabalhavam nem estudam. É a parcela da população conhecida como “nem-nem”. Não é aceitável que uma das 10 maiores economias do mundo, em pleno século 21, ainda registre números assim.
Como ter uma posição de destaque no contexto mundial quando a nossa realidade é a de um país que não valoriza a educação?
A verdade é que a saída de profissionais qualificados e a grande quantidade de pessoas sem formação são uma barreira para o crescimento do país. Investimentos em educação e pesquisa foram a base do desenvolvimento de todas as principais potências econômicas do mundo.
A produção de conhecimento é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores ativos da economia. Mas como ter uma posição de destaque nesse contexto mundial quando a nossa realidade é a de um país que não valoriza a educação?
Como o Governo não demonstra capacidade para apresentar soluções que revertam esse quadro, estabelece-se a necessidade de que as empresas busquem alternativas que minimizem esse cenário nada otimista.
Gestores de grandes, médias e mesmo de pequenas organizações sabem que é fundamental ter recursos para investir em qualificação, seja financiando a graduação ou pós-graduação de funcionários, buscando parcerias com faculdades, criando universidades corporativas, além da realização periódica de cursos de atualização profissional.
Infelizmente, por melhor que sejam os programas de qualificação das organizações, não passam de soluções paliativas, pois as ações terão resultados limitados enquanto não houver um compromisso nacional em estabelecer o Brasil como um centro de referência na produção de conhecimento. Por isso, é preciso reverter o quadro atual. O somatório do capital humano perdido para o exterior adicionado àquele que não é desenvolvido é o recurso fundamental para construirmos o país que desejamos.