Por Rafaella Matioli e Naira Duarte*
O bem-estar dos colaboradores já era uma grande preocupação para muitas empresas, mesmo antes do início da pandemia de COVID-19. Agora é essencial e vai além: as organizações mundo afora reconhecem o impacto que os últimos dois anos tiveram no bem-estar físico, emocional, financeiro e social de seus colaboradores e, por este motivo, estão cada vez mais reconhecendo a importância da resiliência da sua força de trabalho.
Em sua estrutura de Políticas de Saúde de 2020, a Organização Mundial da Saúde afirma que a resiliência “é determinada pela disponibilidade de ambientes de apoio, que são essenciais para que as pessoas aumentem o controle sobre os determinantes de sua saúde”. Não é apenas um olhar para uma perspectiva de curto prazo, à medida que navegam pela pandemia e trazem os trabalhadores de volta ao local de trabalho. Mas sim um elemento crítico do sucesso dos negócios a longo prazo. Certificar-se de que os colaboradores sintam-se apoiados, seguros e cuidados deve ser um elemento central da estratégia de pessoas e da cultura de uma organização.
Para aquelas que buscam o bem-estar dos seus colaboradores como uma ferramenta além de atração e retenção de talentos, o investimento nesse esforço pode ajudar suas equipes a construir resiliência, proporcionando adaptabilidade à mudança, um sentimento de pertencimento e a capacidade de atingir seu potencial máximo. As empresas que oferecem programas de bem-estar também podem ser recompensadas não só com uma redução nos custos em saúde, mas também com a melhoria da produtividade e desempenho financeiro.
Diante de uma crise tão complexa, muitas empresas elencaram, entre suas metas, ajudar os colaboradores – essenciais nos esforços para operar durante a crise – a desenvolver resiliência. Entre as maneiras de ajudá-los a serem mais resilientes e a enfrentar os tempos turbulentos que ainda estamos vivenciando, está a oferta de benefícios e iniciativas que foquem não apenas na saúde física, mas também na saúde mental, emocional, social, profissional e financeira.
Por exemplo, entre as mais de 800 empresas brasileiras entrevistadas pela Pesquisa de Benefícios Aon 2021, 68,1% apontaram que a pandemia influenciou as ações de qualidade de vida disponibilizadas ao seu quadro funcional. Em 70% delas, houve aumento/intensificação das ações e, em 21%, não havia nenhuma iniciativa e foram implementadas durante a pandemia. Outras 6,5% liberaram os resgastes de saldo de conta de previdência privada para os seus colaboradores e aposentados no período. Além disso, as companhias listaram as principais medidas que foram tomadas em razão da pandemia e que serão mantidas na rotina futura: 70,3% indicaram o trabalho remoto, 47% apontaram os programas e/ou ações de qualidade de vida e bem-estar e 46,2% consideraram a telemedicina.
Vale lembrar, no entanto, que as organizações estão em diferentes estágios das jornadas de bem-estar. Dessa forma, suas abordagens são diferentes à medida que progridem no caminho de maior resiliência do seu quadro funcional. Há, no entanto, diversos fatores que podem ser aplicados por empresas de vários portes e em diferentes etapas desta jornada, contribuindo com sucesso para a construção da resiliência dos seus colaboradores, conforme identificados pelo relatório Rising Resilient da Aon, que observou o tema em diferentes partes do mundo.
Um dos principais fatores identificados foi as iniciativas positivas para a saúde no local de trabalho, que ajudam os colaboradores a levar uma vida mais saudável fora do escritório. Trazendo esse tema para o cenário brasileiro, é possível notar o esforço das empresas: atualmente 59,7% delas oferecem programas de gestão de saúde e/ou qualidade de vida e bem-estar aos seus colaboradores. Esse percentual representa um aumento de 31 p.p. em relação a 2019, segundo a Pesquisa de Benefícios, indicando o interesse corporativo em manter e disseminar uma cultura de saúde entre seus colaboradores.
Com a pandemia introduzindo novas tensões financeiras para muitos colaboradores, o desenvolvimento de segurança financeira ganhou destaque entre os fatores que contribuem para a resiliência. Os empregadores podem ajudar com planejamento financeiro e programas educacionais que auxiliam a sua força de trabalho a fazer um orçamento melhor e estar mais bem preparada para amanhã. Nesse sentido, quase metade das companhias brasileiras (46,8%) oferece o benefício de previdência privada aos seus colaboradores, com a maioria delas optando cada vez mais em fornecer planos que permitam aos beneficiários ter direito às contribuições mais cedo e com mais autonomia para decidirem onde investir os recursos.
O apoio à saúde mental foi outro fator importante apontado pelos colaboradores mundo afora para a construção de maior resiliência no ambiente empresarial. Abordar a saúde mental significa buscar entender as fontes de estresse na vida pessoal dos trabalhadores, como questões familiares, financeiras ou sociais, e oferecer recursos flexíveis e de apoio. No caso do Brasil, 43,5% das empresas passaram a aplicar, na pandemia, programas específicos para a saúde mental.
Esses são apenas alguns exemplos de como as organizações estão se esforçando para reconhecer os vários impactos da pandemia sobre os funcionários e ajudar a resolvê-los, o que deve fazer parte de qualquer estratégia geral para orientar uma empresa durante uma crise, bem como para superá-la e a deixar para trás. Demonstra, ainda, como a resiliência da força de trabalho é um elemento importante para o sucesso dos negócios, especialmente nestes tempos desafiadores em que ainda vivemos.
* Rafaella Matioli, Diretora de Health & Human Capital Solutions da Aon Brasil e Naira Duarte, Gerente em Consultancy & Solutions da Aon Brasil.