Por Marianna Greca*
Às vezes eu me pego pensando na dor crônica no estômago que essa competitividade do mercado de trabalho, em qualquer área, causa na gente. É uma ansiedade que nos deixa muitas vezes inquieto e sempre, em algum nível, infelizes. Nunca somos suficientemente bons, e em raros casos estamos “bem”, estáveis, salvos. E se estamos: até quando? Sempre falta aquele skill, contato, uma especialidade, aquela experiência prévia. E nós, como bons profissionais, damos a largada e corremos atrás todos os dias. Buscamos curso online, pós-graduação, curso de extensão, livro técnico, PDF, cafezinho com a referência da área, etc., etc.
Charles Darwin, em A Origem das Espécies, já dizia que os seres vivos estão adequados ou não, nascem com as características necessárias para a sobrevivência ou não. De certa maneira, ou você nasceu talhado para exercer aquela função ou pode esquecer. São características inatas e aleatoriamente presentes nos seres, são inerentes aos indivíduos, para resumir, não podem ser adquiridas. Segundo essa lógica, então pra que ler tanto PDF? Não seria mais fácil assumir a inevitável derrota e nos resignar à situação em que estamos? Provavelmente.
A gente tem que se esforçar todos os dias para conquistar o que é nosso, o que é inerente a nós
Mas sabe o que eu acho? Que a gente tem que se esforçar todos os dias para conquistar o que é nosso, o que é inerente a nós, o que faz parte da nossa natureza individual. Também acredito ser verdade que levamos anos, quem sabe décadas, para realizar todo o nosso potencial. Porque mesmo que o mercado naturalmente nos selecione conforme aquelas habilidades que nos são naturais – sob o termo “perfil” –, elas podem e devem ser potencializadas pela nossa ação. É tudo uma questão de escolha e estratégia, e isso sim tem a ver com competências aprendidas. Em outras palavras, sendo humano e capaz de me adequar ao meio, depende só de mim.
Ser quem a gente é dá trabalho; e tem que dar trabalho. Aquela insatisfação crônica, essa ansiedade que faz revirar as nossas vísceras e correr atrás o tempo todo é a condição pra gente fazer aparecer, com muito trabalho aquelas características que, lá no fundo, já nos eram inerentes.
Falo daquilo que é nosso, e que exige que cumpramos alguns critérios de experiência, maturidade e até um certa quilometragem de vida para ser habilitado, destravado, “enabled”. Como disse Paulo Leminski: “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”.
E tudo isso, na natureza ou nessa selva que é o mercado de trabalho, pode ser resumido à lei que o Charles Darwin já ficou rouco de tanto nos ensinar. Ou seja, lemos tantos PDFs, fazemos tantos cursos e desafiamos tanto as adversidades porque, no final das contas, o principal skill para a sobrevivência é uma fórmula muito universal e nada mágica: a simples busca pela adaptação.