ABRH Brasil

Por Edgar Werblowsky*

A primeira geração de mulheres executivas de primeiro nível está prestes a se aposentar. Mais vulneráveis que os homens no processo de envelhecimento, muitas temem o que farão após a carreira. Essa fase pode representar a expectativa de renascimento, autoconhecimento e novos significados para que construam uma nova história.

O Brasil possui a quinta maior população idosa do planeta – com projeção de grande crescimento. Hoje são 14% de nossa pirâmide, e devem atingir os 20% em 2030. E os brasileiros acima de 50 anos são hoje 54 milhões – 25% da população, mais do que uma Espanha. Nos Estados Unidos, 19% das pessoas acima de 65 anos trabalham – e serão 22% em 2024, segundo Joseph Coughlin, diretor do AgeLab do MIT, autor do livro The Longevity Economy – Unlocking the World’s Fastest Growing, Most Misunderstood Market.

É preciso quebrar o paradigma de que, por estarmos idosos, não servimos para nada. Pessoas com 60 anos de idade podem ter mais 20, 30 anos ou mais de vida útil. Então a pergunta é: o que fazer? As possibilidades são inúmeras.

Algumas empresas brasileiras já perceberam que uma política que inclua a intergeracionalidade é inteligente.

A PwC criou o projeto Senior Citizens, que em fevereiro de 2018 contratou os primeiros cinco talentos acima dos 50 anos, para funções alinhadas com suas trajetórias. O sócio Durval Portela é um entusiasta do projeto. Ele acredita que em breve o modelo será replicado para outras áreas da empresa.

O programa Toque de Vivência, da Tokio Marine, começou a contratar em 2017 pessoas com mais de 50 anos para atuar no contact center da empresa, dando a esses profissionais a grande responsabilidade de serem o primeiro contato do cliente com a companhia.

A Gol também criou em 2017 seu programa Experiência na Bagagem, de contratação de seniors, depois que a empresa percebeu que seus profissionais mais experientes, na casa dos 50, 60 e 70 anos, tinham comprometimento, dedicação e engajamento muito acima da média. Afirma Jean Carlo Nogueira, diretor de RH: “O objetivo é que haja mais equilíbrio entre a jovialidade e a maturidade”.

Também em 2017, o Sebrae abriu vagas de consultores de crédito exclusivas para maiores de 60 anos de idade. Aqui o número foi expressivo: 510. E esses contratados trabalharão em suas próprias casas. Desejo de muitos.

Se por um lado os dramas da reforma da previdência estão pondo os cabelos do Brasil em pé, por outro as oportunidades da intergeracionalidade dos “cabeças grisalhas” com os millenials podem trazer inúmeros benefícios às organizações. Pois os talentos grisalhos ostentam também um segundo chapéu: o de mercado grisalho. E aqui está o pulo do gato. É muito mais fácil para um grisalho entender necessidades e desejos de sua tribo do que para um gerente jovem calçar essas botas.

*Edgar Werblowsky é criador do I Fórum dos Talentos Grisalhos e curador da Aging Free Fair, feira da longevidade